Num gesto potente de conexão entre territórios periféricos da América Latina, o Voz das Comunidades, em parceria com o jornal colombiano Universo Centro, iniciou um intercâmbio cultural em 2025 que vai além da troca de experiências: é uma ação que materializa afetos, memórias e resistências em cores e formas nos muros de Medellín e do Rio de Janeiro.
Nesta semana, a voz das favelas cariocas ganhou espaço nas ruas da Colômbia com a inauguração do mural Universos das Vozes, criado pelo designer João Victor Vitória e pela artista Tamires Aragão. A obra, resultado da vivência da equipe do Voz em Medellín, celebra os laços culturais e afetivos que unem territórios marcados pela desigualdade, mas também pela criatividade e pela luta coletiva.
Com conceito central baseado na cultura popular, na comunicação comunitária e na identidade afetiva do Rio, o mural traz elementos como o bar — símbolo de resistência e sociabilidade urbana —, o jornal impresso Voz das Comunidades e o emblemático cachorro caramelo, referência à conexão simbólica entre o povo e seu território. A obra está localizada na Comuna 1, bairro Santo Domingo.




Durante o intercâmbio, a equipe do Voz das Comunidades mergulhou no cotidiano de Medellín e identificou semelhanças com as periferias brasileiras. “Foi um momento de reflexão profunda sobre o que é o território, como se constroem os vínculos afetivos e de resistência, e como a comunicação popular pode ser ferramenta de mudança”, relataram integrantes do grupo.
A troca foi mútua: os colombianos também deixaram sua marca no Complexo do Alemão, com um painel inspirado na fotografia de Juan Fernando Ospina, que retrata o “rebusque” — expressão que representa a economia informal, presente em toda a América Latina. O mural, localizado ao lado da Escola Professor Affonso Varzea, homenageia práticas comuns às favelas, como o improviso criativo e a busca por dignidade.

Mais do que arte, o projeto Universos das Vozes simboliza um encontro de olhares, onde a cultura e a comunicação popular se tornam ferramentas de transformação. Em cada mural, pulsa a memória viva de dois povos que, mesmo separados por fronteiras, compartilham a mesma voz de luta e esperança.