Trabalhadores viviam e dormiam na fábrica atingida por incêndio em Ramos

São 21 pessoas resgatadas; oito estão em estado grave e todas seguem em observação em diferentes hospitais
Foto: Uendell Vinícius/Voz das Comunidades

Nos bastidores do carnaval, milhares de pessoas trabalham para tornar a festa mais aguardada do Rio de Janeiro uma realidade. Nesta quarta-feira (12), o incêndio que atingiu uma fábrica em Ramos, Zona Norte do Rio, tomou os noticiários. O local era responsável por cerca de 60% da produção de fantasias na cidade e diversos trabalhadores foram resgatados e agora enfrentam as consequências do incidente.

Funcionários descreveram momentos de pânico ao perceberem o fogo. Segundo relatos, muitos dormiam no local devido à alta demanda de produção para o Carnaval e acordaram com gritos de “fogo, fogo!”. Ao abrirem a porta do ateliê onde descansavam, foram surpreendidos por uma densa fumaça, tornando impossível a saída pela entrada principal.

“Fomos dormir tarde. Aí só escutamos a gritaria, o barulho de vidro quebrando e pedidos de socorro do pessoal de cima. Quando tentamos sair, vimos que a fumaça tomava conta do lugar, não tinha como escapar. (…) Pegamos rapidamente nossos pertences e descemos correndo”, contou Raiane, uma das funcionárias que estava no local.

Nem todos, porém, conseguiram sair rapidamente. Wesley, estava na fábrica no momento do incidente, ficou pendurado em uma das janelas e, ao ser resgatado, saiu muito abalado: “Muitas pessoas não ainda não conseguiram sair”, lamentou.

O desespero levou uma vítima a pular para tentar escapar das chamas. Relatos de pessoas que presenciaram cena, informaram ao portal G1 que alguns trabalhadores não conseguiram acessar as escadas e optaram por saltar. “Algumas pessoas pularam, outras conseguiram chegar as escadas. Uma delas tentou pular, mas caiu de cabeça, não sei o estado”.

Vizinho da fábrica, Charles Ferreira ajudou no resgate e acionou os bombeiros. “Escutei os gritos de socorro e, quando fui ver, já tinha muita fumaça preta. As pessoas tentavam sair quebrando vidros, mas tinham muitas grades impedindo a passagem. Peguei minha moto e corri até o Corpo de Bombeiros, que fica aqui perto. (…) Eles trouxeram um caminhão pipa e uma ambulância do Samu. Conseguimos retirar bastante gente pela frente. A Polícia Militar também chegou logo depois e ajudou a levar várias pessoas para o Hospital Federal de Bonsucesso”, relatou para o portal Itatiaia.

Incidente escancara condições de trabalho precárias

O incêndio que atingiu a fábrica de fantasias expôs as condições precárias enfrentadas por esses trabalhadores que se dedicam a produção do carnaval carioca. Segundo relatos, muitos deles dormiam no local devido a intensa demanda de trabalho. Segundo o Coronel Sarmento, do Corpo de Bombeiros, o prédio não possuía alvará e, portanto, não tinha certificação de segurança para funcionamento. “Tudo que tem no local é de alta combustão”, afirmou. Além das irregularidades estruturais, a empresa também apresenta pendências fiscais. De acordo com a Receita Federal, a Maximus Confecções está inapta desde 2021 por não apresentar declarações obrigatórias. A empresa acumula cerca de R$ 5 mil em dívidas com a Receita e mudou de dono em 2022.

Enquanto as investigações sobre as causas do incêndio seguem, as vítimas seguem internadas em diferentes hospitais do Rio de Janeiro.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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