A campanha da Rabanne foi fotografada na Rocinha. Teve passinho, teve visual inspirado no funk, teve estética de favela como cenário e linguagem. Mas faltou o que quase sempre falta: presença nos bastidores, nas decisões, nos créditos, nos lucros.
Dizem que é “inspirado no Brasil real”. Mas qual Brasil é esse que só aparece quando cabe no enquadramento europeu?
O funk, o corte de cabelo, o estilo das roupas, o jeito de dançar. Tudo é usado como tendência. Mas quando vem da gente, é criminalizado. Quando passa pelo filtro do luxo, é exaltado como “autêntico”, “espontâneo”, “revolucionário”.
A verdade é que a favela só vira referência se torna fashion. Mas nunca é o favelado quem decide isso. A cultura preta só vira pauta quando é cool. E o que nasce como resistência segue sendo explorado como estética.
Moda é poder simbólico. É construção de imaginário. É ferramenta política. E quem constrói esse imaginário continua, muitas vezes, editando nossa imagem, sem nos escutar, sem nos remunerar justamente, sem nos respeitar como criadores.
A pergunta é simples e precisa ser feita de novo: Se essa campanha tivesse sido criada por artistas da Rocinha, ela seria celebrada ou ignorada?
Quantos artistas da favela têm acesso a um editorial global?
Quantos stylists pretos cariocas estão nas direções criativas dessas campanhas?
Quantas dançarinas de passinho viram diretora de movimento?
Não basta posar na laje.
Tem que redistribuir protagonismo.
Esse texto não é um ataque.
É um convite à reflexão coletiva.
Pra que a gente continue denunciando as estruturas que seguem usando nossa cultura como vitrine sem devolver espaço, reconhecimento e retorno.
Porque se a favela inspira, mas não lucra, isso não é homenagem. É apropriação.
Carol Berto
Stylist, Comunicadora, Mentora e Palestrante. Auxilia empreendedores, empresários e marcas que não se encaixam em padrões, na construção de presença, estratégia e coragem, usando a comunicação e a imagem como ferramentas de transformação.