OPINIÃO – O artista Poze é tudo que o sistema não esperava que o Marlon Brandon fosse

Texto: Bárbara Barbosa (Jornalista), Cristiano Silva (Historiador) João Luís (Bacharel em Direito)
Foto: Reprodução

Sabemos que historicamente a população negra foi etiquetada como uma mercadoria pelas instituições sociais. A cor da pele, a região em que mora, a linguagem, a religião, a arte sempre estiveram nos alvos da repressão, da negação, do inquérito, do preconceito, das subjetividades e estruturas racistas. E essas heranças continuam sistematicamente forjando, acusando e sentenciando. E a prisão do Mc Poze do Rodo traz alguns questionamentos dos quais surgem no meio desse processo, que por sinal, não tem nada de legal! Eleições, relações de poder, preconceito ou uma cortina de fumaça para ocultar crimes que ocorrem entre os gabinetes da gestão organizada pública?

O Estado dentro e fora das suas atribuições comete crime, e crimes sucessivos, elaborando construtivamente a ideia da guerra e do inimigo. Ninguém fica livre, das perseguições dessa
engrenagem do sistema, quando decide passar a ser ferrugem, a permanecer sendo lubrificante dessa máquina de moer gente. Isso é exatamente o que acontece com o cantor, para manter a manutenção e funcionamento natural desta máquina. Marlon Brandon, o Poze, deveria permanecer como mais um preto, pobre, vulnerável, morando nas curvas abandonadas da zona oeste do Rio, entrando e saindo do sistema prisional até que morresse.

Contudo, essas expectativas foram frustradas. O mano enriqueceu, mora num bairro de rico, faz sucesso com sua arte e seus fãs! Uma representatividade artística e cultural que, querendo ou não, alimenta o sonho de milhares de meninos e meninas pretas e pobres. Enquanto o mano chega com sonhos e possibilidades, o Estado chega com bala e com a interrupção da vida. Poze, para o sistema, é exemplo daquilo que não deu “certo”, furou a bolha, quebrou o ciclo, inverteu a lógica, contrariou as estatísticas. Por isso é perseguido!

Texto escrito por: Bárbara Barbosa (Jornalista), Cristiano Silva (Historiador) e João Luís (Bacharel em Direito)

EuSouEu – A ferrugem
É uma associação composta por pessoas que vivenciaram o sistema prisional
fluminense, que tem por objetivo debater o sistema prisional e de justiça e seus
desdobramentos.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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