Por: Preto Zezé
A crise climática é fato, e temos dados e pesquisas de sobra. Embora seu entendimento ainda seja algo distante, ela tem impactos severos nas favelas, tanto em termos sociais quanto ambientais.
As favelas — que surgem muitas vezes caracterizadas por urbanização desordenada e infraestrutura precária — foram impactadas de várias formas. Diante disso, após o G20 das Favelas, que pautou as maiores economias do planeta, caminha-se para o F30 (Favela 30), com o objetivo de tratar a questão ambiental, tão crucial para esses territórios.
Durante este período de chuvas e eventos climáticos extremos, as favelas são as mais atingidas por inundações e penetração de terra. Isso ocorre devido à falta de um planejamento justo de distribuição da terra, que obriga o assentamento a se alojar em locais vulneráveis, como regiões próximas ou próximas aos rios.
A ausência de áreas verdes e a densidade urbana tornam as favelas mais propensas ao efeito de ilhas de calor, piorando as condições de vida dos moradores. Associada a isso, a falta de acesso ao saneamento básico para grande parte da população (o maior projeto ambiental para as favelas hoje) agrava a deficiência hídrica, intensificada pela crise climática.
Sem mecanismos de controle e participação efetiva, as populações das favelas vivem uma desigualdade em expansão, aprofundando desigualdades preexistentes. As populações de baixa renda têm menos recursos para se adaptar ou se recuperar de desastres.
As cidades enfrentam períodos desafiadores com a migração gerada por eventos climáticos extremos, que forçam famílias a abandonar suas casas. Isso gera deslocamentos internos, instruções ainda mais os serviços públicos.
Os impactos na saúde são graves, pois a combinação de calor extremo, falta de saneamento e aumento de doenças transmitidas por vetores (como dengue e zika) têm um impacto devastador nas condições de vida.
Ou apostamos em outros modelos de cidades, sustentáveis e socialmente justos, com infraestrutura resiliente, como sistemas de drenagem eficientes e habitações seguras, ou não reduziremos os impactos climáticos.
Estive num evento na Câmara Municipal do Rio e observei que existe, no Plano Diretor da cidade, um capítulo específico sobre as favelas, o que insere na lei nossa participação efetiva.
De novas práticas e ideias o país está cheio. A hora de atuar em integração com o setor público, como organizações comunitárias das favelas e o setor privado é agora. Caso contrário, todos nós pagaremos caro.
A crise climática exige uma abordagem integrada que combine políticas públicas, participação comunitária e inovações tecnológicas. As favelas, apesar de suas vulnerabilidades, também têm um enorme potencial de resiliência e inovação quando recebem suporte adequado e uma escuta eficiente.
Preto Zezé
Ativista, empresário, escritor e presidente da Central Única das Favelas (Cufa-RJ)