Mais uma vez, a juventude preta das favelas sangra. E mais uma vez, tentam sujar a memória de quem nem teve tempo de realizar seus sonhos. O nome dele era Bielzin. Um adolescente com a vida inteira pela frente. Dançarino, cheio de talento, contratado por uma produtora, indo trabalhar. Mas isso não foi o suficiente para protegê-lo de uma bala.
Uma bala não, foram cinco. E não podemos dizem que foram balas perdidas. Cinco tiros tem alvo, são balas achadas, que sempre encontra os mesmos alvos: corpos negros.
Bielzin foi assassinado no Engenho da Rainha, no Rio de Janeiro, e antes mesmo da família conseguir velar seu corpo com dignidade, começou uma nova violência: a criminalização da sua imagem. Pegaram uma selfie no banco de trás de um carro, com um fone de ouvido e um corte de cabelo descolorido – conhecido como “reflexo” – e começaram a espalhar que ele era “bandido”.
Esse reflexo, para quem não conhece, é mais do que um estilo. É identidade. É moda de favela. É parte da estética preta, resistência cultural de jovens que, mesmo sem muitas oportunidades, buscam se expressar com liberdade. Mas num país que ainda associa cabelo, cor da pele e origem à criminalidade, o reflexo vira evidência. A estética vira sentença. A aparência vira alvo.

Estamos cansados. As mães estão exaustas. Quantas vezes mais vamos ver jovens pretos sendo “confundidos”? Quantas vezes a palavra “suspeito” vai ser usada como justificativa para disparar antes de perguntar? Bielzin era um trabalhador. Um jovem honesto, cheio de sonhos, como tantos outros que moram nas periferias e lutam diariamente para não serem engolidos por um sistema que insiste em descartá-los.
Não podemos aceitar que a imagem dele seja manchada para justificar o injustificável. Não podemos deixar que a vida de Bielzin seja reduzida a uma fake news de internet. A favela conhece seus filhos. E a favela não esquece. Bielzin não era mais um. Era tudo o que este país deveria proteger.
Bielzin presente. E que sua memória nos ajude a seguir lutando por justiça, por verdade e por respeito.
Por: Voz das Comunidades