Foto: ONG Viver em Crescimento/Divulgação
Desde cedo ligada a movimentos sociais que zelam pela vida dos moradores de sua comunidade e de regiões próximas, Leila Regina, de 54 anos, destaca uma frase compartilhada entre as gerações da sua família: “a gente só dá aquilo que a gente tem”. É nos valores dessa ideologia herdada pelos seus descendentes que a ativista, formada em Serviço Sociais, e especialista em Família, organiza no bairro que cresceu, na comunidade da Mangueira um curso que prepara os moradores para atuarem como cuidadores de idosos, na Rua Jupará. De segunda a sábado (com exceção de sexta-feira), das 8h às 17h com intervalo de uma hora. Aos sábados, o horário é das 8h às 14h.
“Em 2005, eu construí um estatuto ao lado da minha sobrinha voltada para trabalharmos temáticas sociais. Ao lado dela e da minha filha, todas mulheres negras da comunidade, atuamos nessa área. Hoje, o pessoal fica impressionado com a forma tão ampla que é este documento e o que ele permite a gente fazer. Nele, eu posso trabalhar com mulheres, idosos, crianças, adolescentes e até com egressos do Sistema Penitenciários, que exige uma complexidade um pouco maior”, explica.
Enquanto explica a sua trajetória até a criação do Viver em Crescimento, Leila revela que o espírito de liderança sempre esteve ativo pelo passado conturbado que vivenciou. Compartilhando a realidade triste de muitas mulheres no Brasil, ela conta que sofreu com a violência doméstica que direcionou a sua dependência emocional e financeira ao seu antigo parceiro. Nessa situação delicada, ela ficou 25 anos sem entrar em uma sala de aula.
“Eu passei por esse período da minha vida e tive uma força interior muito grande dentro de mim que me fez voltar a estudar depois de tanto tempo. Naquele tempo, eu participava de um projeto de um morador no Buraco Quente e pelo meu sonho de ingressar no Ensino Superior. Fiz 42 provas em dois meses e meio”, relembra.
Se antes os estudos e a leitura não faziam parte da sua rotina, Leila tornou-se uma leitora assídua de pensadores negros, como Angela Davis. Das frases que recita para os seus, ela gosta de lembrar o pensamento famoso da autora sobre mulheres negras: quando uma mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela. Agora, aliada com o conhecimento adquirido no meio acadêmico, Leila divide entre os seus e luta pela visibilidade de políticas públicas nas comunidades.
Ao lado da sua filha, Thatiana Lima, que agora trabalha como coordenadora (na direita), Leila Regina organiza atividades sociais desde 2005.
“Eu luto contra a desigualdade de gênero no mercado de trabalho e em outras áreas. Em 2018, realizei um centro de referência em capacitação profissional em inserção no mercado de trabalho para mulheres negras chefes de família e moradoras de comunidade. Acredito na potencialidade dessas iniciativas”, finaliza.