‘Minha mãe perdeu mais de 25 quilos e ninguém sabe o que ela tem’, família denuncia descaso médico e falta de diagnóstico após meses de sofrimento

Edna da Mota Oliveira, de 55 anos, está internada há 18 dias na UPA do Alemão; família relata incerteza de diagnósticos, dores intensas, emagrecimento extremo e risco de morte
Foto: Reprodução

A situação de Edna da Mota Oliveira, de 55 anos, é extremamente delicada e a cada dia, sua saúde é marcada por sofrimento, incertezas e um pedido desesperado por ajuda. Moradora do Complexo do Alemão, Edna está internada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Alemão há 18 dias, sem diagnóstico definitivo.

Segundo a família, tudo começou no final de 2024, quando Edna começou a sentir dores em casa. Eles procuraram atendimento na UPA no Alemão. Edna tomou medicação, fez exames, mas nada foi apontado. Ainda assim, as dores continuavam. “Ela ia na emergência da UPA e voltava. Aí mandaram ela ir fazer uma tomografia no Hospital Souza Aguiar. Lá, disseram que era pancreatite. No final, não era. Ela tomou remédio para uma coisa que não tinha”, desabafou Michelle, uma das filhas de Edna. Depois disso, ela foi diagnosticada com pedra nos rins e começou um processo de tratamento de medicação e injeções.

“Minha mãe está só definhando em cima dessa cama. A gente já passou por diversos hospitais, como o Souza Aguiar, Evandro Freire, Acari, até o Albert Einstein, e ninguém conseguiu dizer com certeza o que ela tem”. Internada na UPA, ela chegou a ganhar alta mesmo com as dores constantes, vômitos, não conseguindo se alimentar e evacuar. “Trouxemos ela de novo para a UPA, ela ficou internada dois dias e liberam ela de novo. Nesse meio tempo, minha mãe perdeu mais de 25 kg”.

“Ela está internada na UPA à base de morfina e tramal, porque não tem remédio que faz a dor cessar”

Além das dores físicas, segundo as filhas, Edna também enfrenta agora um quadro de depressão após o ocorrido na última semana, quando sua mãe faleceu ao seu lado. “Isso mexeu com a cabeça dela. Estamos todos sofrendo, mas principalmente minha mãe, que viu tudo acontecer ali do lado”, conta Vânia.

As filhas também denunciam que os profissionais da UPA, apesar dos esforços, estão limitados pela estrutura do local. “A gente entende que a UPA não é lugar de internação prolongada, e que os médicos são de plantão, mas ninguém consegue encaminhar minha mãe. A gente corre atrás de tudo, estamos de mãos atadas”, desabafa Vânia. As filhas temem que a mãe não resista por muito mais tempo. “Ela está com uma massa do lado do útero e ninguém diz o que é. Se a gente não conseguir uma transferência urgente, vamos ver nossa mãe morrer aqui dentro”, finaliza Michelle.

O Voz das Comunidades entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) para verificar a situação de Edna. Até o fechamento desta matéria, o órgão ainda não tinha respondido.


[Atualização]

A SMS não respondeu o contato do Voz das Comunidades. Mas através da produção de reportagem, tivemos acesso às notas emitidas pelas secretarias municipais e estaduais de saúde.

A Secretaria Municipal de Saúde explicou que Edna pediu para que a mãe ficasse do lado dela. A nota esclarece ela não morreu no leito ao lado, mas em outra sala:

No SUS, a responsabilidade pelo provimento e regulação da alta complexidade, como é o caso de oncologia, é dos Estados. No Rio de Janeiro, a regulação é feita pela Central Estadual de Regulação por meio do Sistema Estadual de Regulação (SER).

A Sra. Edna Oliveira está inserida no SER aguardando confirmação de reserva em uma unidade especializada. Até que a transferência seja possível, ela permanecerá recebendo todos os cuidados indicados para o seu caso na UPA Alemão.

A Coordenação da UPA do Alemão deu mais detalhes, também na nota:

A coordenação da UPA Alemão informa que a mãe da paciente deu entrada na unidade no dia 8 de junho, com quadro de infecção urinária, sendo acolhida na Sala Amarela e recebido todos os cuidados indicados para o seu quadro. Atendendo a um pedido da própria Sra. Edna, ela foi colocada em leito ao seu lado. No dia 10 de junho, com a piora clínica, a idosa foi transferida para a Sala Vermelha, mas infelizmente não resistiu.

A UPA conta com uma equipe de assistência social, que está prestando todo apoio à Sra. Edna.

A Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro explicou sobre o quadro de saúde de Edna.

A Secretaria de Estado de Saúde informa que a paciente Edna da Mota Oliveira foi inserida no sistema em 02/06  com quadro de pielonefrite (Pielonefrite é uma infecção bacteriana que afeta os rins) cuja regulação é de competência municipal. Somente em 13/06, a UPA alterou o procedimento para tratamento clínico de paciente oncológico e, desde então, a equipe do Complexo Estadual de Regulação trabalha na captação de vaga compatível à necessidade de Edna.

O Voz das Comunidades seguirá acompanhando o caso.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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