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Eles dependem dos nossos votos, mas não nos oferecem um lugar à mesa

Articulações políticas para disputa presidencial revelam sub-representação da população negra
Foto: Rafael Costa
Foto: Rafael Costa

Por: Ariel Freitas para a Folha de S.Paulo

“Dizem que só falo das mesmas coisas, é a prova que nada mudou, nem eu, nem o mundo”. Pois é, Djonga (rapper autor do trecho acima), dizem que nós falamos sempre das mesmas coisas, mas essa é a prova verbal que ainda nada mudou. Nas vésperas de mais um ciclo eleitoral, a frase do artista de Belo Horizonte casa perfeitamente com o cenário padrão deste período: campanhas políticas direcionadas a um discurso de construção social mais justa. Entretanto, à esquerda ou à direita – e também ao centro – a composição majoritariamente branca das articulações que pretendem governar o país apontam que não há espaço ou uma certa prioridade para as pautas que envolvem a maior parte da população brasileira: a negra.

Como uma música, a verdade, mesmo que repercuta de maneira repetitiva e enjoativa, não deixa de carregar o seu conteúdo. Desta forma, é importante evidenciar que ao mesmo tempo que a distância para as próximas eleições (cerca de quatro meses) diminui, aumenta o afastamento das principais lideranças brasileiras com as pautas relacionadas ao povo preto e periférico.

Atualmente, a população do Brasil é formada por 54% de pessoas consideradas negras, de acordo com a última pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Quando há um espaço “pintado” por cidadãos brancos ou um silêncio “emanando” de quem é classificado apto a liderar o executivo a partir de 2023, demonstra que mesmo com a dependência dos votos afrodescendentes para quem deseja se eleger à nível federal exista, não há a oferta de um lugar à mesa para essa parcela de brasileiros. Para nós, pretos, apenas uma lacuna e promessas tão vazias quanto a representatividade do nosso povo no plano estratégico e de atuação dos principais candidatos ao Planalto Federal.

Hoje, as principais demandas estruturais do Brasil passam pela perspectiva de raça. Entre os motivos disso, está a crise econômica e social agravada pela pandemia do coronavírus e a péssima gestão do presidente Jair Messias Bolsonaro (PL), que segundo a pesquisa Genial/Quaest possui 59% de rejeição. Dentro de todos as etnias, a negra foi a mais afetada nos últimos dois anos em decorrência da covid-19, como aponta o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada sobre as consequências no trabalho de mulheres, jovens e negros.

Sem a presença de pretos no plano estratégico de quem concorre nas eleições deste ano, como pensar que as problemáticas da população afro serão ouvidas ou resolvidas? Como reverter o quadro da linha de pobreza das mulheres negras chefes de lares de 63% (IBGE) no país sem a voz ativa de uma? Há intenção de diminuir o encarceramento em massa dos homens negros, que hoje representam 66,7% dos presos, dois a cada três (Anuário Brasileiro de Segurança Pública) com ausência de um na gestão? E sobre a evasão ou interrupção escolar dos jovens negros durante a pandemia que alcançou 45% (Desigualdade na educação brasileira: ressignificação do abandono escolar no contexto de pandemia, 2022)?

Como o loop de uma faixa favorita, não há espaço para a população negra na mesa. Já que o desemprego que alcança 72,9% desta parcela não permite muitas refeições durante o dia para ela. Em meio ao tom repetitivo e necessário, é necessário a voz ativa de pessoas afrodescendentes na construção do país.

Ariel Freitas
Jornalista na Voz das Comunidades e colaborador do PerifaConnection.

PerifaConnection, uma plataforma de disputa de narrativa das periferias, é feito por Raull Santiago, Wesley Teixeira, Salvino Oliveira, Jefferson Barbosa e Thuane Nascimento. Texto originalmente escrito para Folha de S.Paulo

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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