Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades
Entre os diversos impactos causados pela pandemia do Covid-19 na população, a fragilidade gerada no quadro de saúde mental é um dos mais evidentes em tempos de isolamento social e de perdas de entes queridos inesperadamente. Esses fatores delicados contribuem para o aumento de ansiedade, crises psicológicas e também aumentam a vulnerabilidade de usuários de entorpecentes químicos e de bebidas alcoólicas que estão em processo de tratamento.
Com o objetivo de entregar um bem-estar e amparo ao próximo, mesmo enfrentando adversidades, profissionais do Centro de Atenção Psicossocial Miriam Makeba (Caps), localizado na Rua Professor Lacé 285, no Complexo do Alemão, atuam presencialmente durante a pandemia para garantir a integridade de pacientes. Seguindo as medidas de proteção contra o coronavírus, enfermeiros realizam apenas o atendimento individual dos moradores dos bairros de Ramos, Bonsucesso, Complexo Penha, Olaria, Ilha do Governador, Complexo do Alemão, Complexo da Maré, Manguinhos, Jardim América, Vigário Geral, Cordovil, Parada de Lucas, Penha Circular e Brás de Pina.
“Com essa pandemia, o trabalho do CAPS continua atuando presencialmente, mas com mudanças pelo risco do coronavírus. Por exemplo, o trabalho de grupo terapêutico que visa a redução de danos e facilita a interação entre os pacientes não é mais realizado por causar aglomeração. Uma pena, pois, é um dos tratamentos preferidos dos pacientes. Por causa disso, a gente tenta atender mais o território mesmo e restringimos a circulação. As pessoas que estão aqui nesse momento são pessoas que estão em crise ou em situação mais vulnerável”, explica a enfermeira Ana Gabriela, que ingressou no CAPS no início da pandemia.
Mesmo com todas as medidas de proteção, alguns pacientes e funcionários foram infectados pelo coronavírus. Além das complicações causadas pela pandemia, o CAPS Miriam Makeba funciona com instalações precárias, o que dificulta o atendimento aos pacientes. Há também o impasse em relação a pagamentos de profissionais terceirizados, que trabalham em áreas essenciais dentro da casa, como trabalhadores que mantêm a higiene no local. O problema da falta de pagamento ocorre há quatro meses e gerou um movimento de protesto, em março, na frente da sede pelos próprios pacientes.
“Nós estamos com um banheiro interditado, o que dificulta a higienização dos pacientes, como na hora do banho. As estruturas dos quartos estão precárias e inclusive, ano passado, o teto de um aposento despencou e quase caiu em cima dos pacientes. Além disso, estamos com o ar condicionado defeituoso, o que faz ele encharcar o piso, e quando acordamos temos que pisar em cima das poças”, revela.
De acordo com os funcionários, a deterioração na estrutura do CAPS, que faz parte da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e do Sistema Único de Saúde (SUS), é uma condição que piora gradativamente há anos. O pouco investimento em uma área vital contribui para a vulnerabilidade no quadro psicológico durante a pandemia, principalmente, dos moradores de favelas. Em pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos, encomendada pelo Fórum Econômico Mundial, foi registrado que 53% dos brasileiros declararam piora na saúde mental no último ano.