Nascido em Duque de Caxias e criado no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio, Evandro Alves sempre teve uma conexão muito forte com a gastronomia. Ele lembra que, ainda criança, o cheiro da comida da vó era algo marcante. “Minha vó fazia uma carcaça de frango maravilhosa. Todo mundo falava do cheiro bom. A gente, na época, não sabia que era carcaça, para a gente era frango e era delicioso. E foi a partir daí que comecei a me interessar pela cozinha”, conta.
Para o jovem de 29 anos, gastronomia sempre esteve atrelada a unir pessoas. Ele lembra que quando sobrava um pouco mais de dinheiro, sua vó cozinhava para toda a família um gnocchi e era uma festa. “Isso me marcou muito. Acho lindo quando a família se reúne para almoçar. É impressionante como a comida consegue reunir pessoas de uma forma impressionante”, diz Evandro.
Em seus primeiros anos de vida adulta, Evandro entrou para o quartel e assim que se estabilizou decidiu que precisava de mais e foi fazer faculdade. Na hora de escolher o curso, lembrou de sua paixão pela cozinha. “Eu gostava, mas não sabia nada sobre gastronomia. Fui fazendo cursos e mais cursos para poder me especializar”. Hoje, formado em gastronomia pela Unisuam e especializado em churrasco, Evandro chegou até a trabalhar em um restaurante renomado do Leblon, onde aprendeu muito do que sabe hoje.
Evandro conta que trabalhava longas horas e que isso custou sua saúde mental. Após uma tentativa de suicídio, ele procurou ajuda psiquiátrica e precisou ser afastado do trabalho para cuidar de sua saúde. Mal sabia ele que esse seria o pontapé principal para o capítulo de sua vida que viria a seguir.
Favela Gastronômica
Evandro conta que chegou a tentar se inscrever para a primeira edição do Favela Gastronômica, que aconteceu em 2024, mas não conseguiu. Mas para essa segunda edição, ele não perdeu tempo. “Nem acreditei quando fui selecionado, tinha muita gente”, conta o chef.
E é claro que se para Evandro reunir pessoas através da comida era especial, o prato escolhido por ele tinha que trazer esse toque de família. Com um gnocchi de ragu de linguiça defumada, Evandro participou da 2ª edição do Favela Gastronômica e foi o ganhador do evento. “Eu escolhi o gnocchi exatamente por conta da minha vó. Aqui em casa ninguém além dela conseguia fazer direito. Então, eu tentei. E deu muito certo”, conta.

Ele conta que tudo foi pensado, inclusive a cor dos aventais de seus ajudantes no stand. “Eu decidi que dedicaria toda a minha energia nisso e que iria dar certo”. Deu tão certo que Evandro, além de ter ganhado o prêmio máximo do evento, recebeu diversos elogios do público presente e de chefs de cozinha. “As pessoas elogiaram demais. Falaram que o prato estava delicioso e que tudo estava super organizado. Foi muito gratificante para mim”, conta.
Próximos passos
O sonho não acabou. Agora que ganhou o Favela Gastronômica, Evandro pensa em começar a criar conteúdo online e abrir uma cozinha criativa onde atenderia uma pequena porcentagem de pessoas. Ele conta que gostaria de fazer os pratos na frente do cliente e levar um pouco da alta gastronomia e da sofisticação para a Zona Norte.

“Eu não acho legal só as pessoas que tem dinheiro terem acesso ao luxo e só elas almoçarem num lugar legal e comerem aquela comida muito sofisticada. Então, a minha ideia é tentar trazer de alguma forma a sofisticação para o meu povo da Zona Norte. Dentro das limitações que a gente tem, é claro. Porque não dá pra gente botar um caviar, é muito caro, mas dá pra gente servir uma ova de algum outro peixe, criar pratos, tentar adaptar para trazer para cá. Tipo o que eu fiz com o nhoque. É um produto caro, mas eu adaptei para servir na zona norte”.