Conheça a história de Evandro Alves, o ganhador do Favela Gastronômica 2025

Com um gnocchi de ragu de linguiça defumada, Evandro se inspirou em sua vó na receita que ganhou o evento.
Foto: Uendell Vinicius / Voz das Comunidades

Nascido em Duque de Caxias e criado no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio, Evandro Alves sempre teve uma conexão muito forte com a gastronomia. Ele lembra que, ainda criança, o cheiro da comida da vó era algo marcante. “Minha vó fazia uma carcaça de frango maravilhosa. Todo mundo falava do cheiro bom. A gente, na época, não sabia que era carcaça, para a gente era frango e era delicioso. E foi a partir daí que comecei a me interessar pela cozinha”, conta.

Para o jovem de 29 anos, gastronomia sempre esteve atrelada a unir pessoas. Ele lembra que quando sobrava um pouco mais de dinheiro, sua vó cozinhava para toda a família um gnocchi e era uma festa. “Isso me marcou muito. Acho lindo quando a família se reúne para almoçar. É impressionante como a comida consegue reunir pessoas de uma forma impressionante”, diz Evandro.

Em seus primeiros anos de vida adulta, Evandro entrou para o quartel e assim que se estabilizou decidiu que precisava de mais e foi fazer faculdade. Na hora de escolher o curso, lembrou de sua paixão pela cozinha. “Eu gostava, mas não sabia nada sobre gastronomia. Fui fazendo cursos e mais cursos para poder me especializar”. Hoje, formado em gastronomia pela Unisuam e especializado em churrasco, Evandro chegou até a trabalhar em um restaurante renomado do Leblon, onde aprendeu muito do que sabe hoje.

Evandro conta que trabalhava longas horas e que isso custou sua saúde mental. Após uma tentativa de suicídio, ele procurou ajuda psiquiátrica e precisou ser afastado do trabalho para cuidar de sua saúde. Mal sabia ele que esse seria o pontapé principal para o capítulo de sua vida que viria a seguir.

Favela Gastronômica

Evandro conta que chegou a tentar se inscrever para a primeira edição do Favela Gastronômica, que aconteceu em 2024, mas não conseguiu. Mas para essa segunda edição, ele não perdeu tempo. “Nem acreditei quando fui selecionado, tinha muita gente”, conta o chef.

E é claro que se para Evandro reunir pessoas através da comida era especial, o prato escolhido por ele tinha que trazer esse toque de família. Com um gnocchi de ragu de linguiça defumada, Evandro participou da 2ª edição do Favela Gastronômica e foi o ganhador do evento. “Eu escolhi o gnocchi exatamente por conta da minha vó. Aqui em casa ninguém além dela conseguia fazer direito. Então, eu tentei. E deu muito certo”, conta.

O famoso gnocchi de Evandro, prato vencedor da 2ª edição do Favela Gastronômica. Foto: Uendell Vinicius / Voz das Comunidades.

Ele conta que tudo foi pensado, inclusive a cor dos aventais de seus ajudantes no stand. “Eu decidi que dedicaria toda a minha energia nisso e que iria dar certo”. Deu tão certo que Evandro, além de ter ganhado o prêmio máximo do evento, recebeu diversos elogios do público presente e de chefs de cozinha. “As pessoas elogiaram demais. Falaram que o prato estava delicioso e que tudo estava super organizado. Foi muito gratificante para mim”, conta.

Próximos passos

O sonho não acabou. Agora que ganhou o Favela Gastronômica, Evandro pensa em começar a criar conteúdo online e abrir uma cozinha criativa onde atenderia uma pequena porcentagem de pessoas. Ele conta que gostaria de fazer os pratos na frente do cliente e levar um pouco da alta gastronomia e da sofisticação para a Zona Norte.

Foto: Uendell Vinicius / Voz das Comunidades.

“Eu não acho legal só as pessoas que tem dinheiro terem acesso ao luxo e só elas almoçarem num lugar legal e comerem aquela comida muito sofisticada. Então, a minha ideia é tentar trazer de alguma forma a sofisticação para o meu povo da Zona Norte. Dentro das limitações que a gente tem, é claro. Porque não dá pra gente botar um caviar, é muito caro, mas dá pra gente servir uma ova de algum outro peixe, criar pratos, tentar adaptar para trazer para cá. Tipo o que eu fiz com o nhoque. É um produto caro, mas eu adaptei para servir na zona norte”.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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