Em celebração ao Dia Nacional do Samba, celebrado em 2 de dezembro, o Trem do Samba levou sambistas e turistas nos vagões da Supervia em uma animada viagem que sai da Central do Brasil e vai direto a Oswaldo Cruz, zona norte do Rio, durante 23 edições. No fim da viagem, todos se reuniam pelas ruas do bairro a fim de festejar o ritmo centenário, carioca e de raiz africana pelos diversos palcos espalhados pelas ruas. Porém, em 2019, a composição do samba não dará a partida, em decisão tomada na manhã de hoje (28).
O sambista Marquinhos de Oswaldo Cruz, idealizador do projeto, confirmou o cancelamento da tradicional festa este ano: “tentamos de todas as formas, em conversas com a Prefeitura e a Supervia [concessionária dos trens do Rio de Janeiro], mas infelizmente não deu.” Desde o início da gestão do prefeito Marcelo Crivella, iniciada em 2017, a Prefeitura não apoia o projeto, que vinha seguindo por conta de patrocínios da iniciativa privada. Esse ano, nem isso: “a demonização da cultura numa cidade com vocação para a festa acaba afastando empresas privadas, que não veem interesse em participar de algo do tipo”, lamentou.
O sambista aponta ainda para o legado social do evento, que em parceria com a Supervia arrecadou, em 2018, três toneladas de alimentos para instituições que prestam algum tipo de assistência – o ingresso para o Trem era 1 kg de alimento não-perecível: “além disso, foram mais de 100 mil pessoas num evento popular, com 600 músicos, milhares de empregos diretos e indiretos. Em troca, peço ajuda para organizar, conseguir banheiros químicos, dinheiro para pagar o pessoal. Em troca, quanto isso gera para a cidade?”, questiona Marquinhos. Ele também chama a atenção para a grandiosidade do evento: “O Brasil só comemora o Dia do Samba por causa do Trem. Antes dele tínhamos ações pontuais, mas a data ganhou o país depois que criamos esse evento.”
O Trem do Samba é um fruto que cresceu desde 1991, com a criação do Pagode do Trem, idealizado por Marquinhos – que, sem saber, resgatava a partir dali uma tradição de Paulo da Portela, que organizava sambas na malha ferroviária já nos anos 1920. Marquinhos, importantíssimo agitador cultural do Rio, responsável pela retomada da feijoada da Portela há 15 anos, junto com a Velha Guarda da escola, e também pela Feira das Yabás, em Oswaldo Cruz, não se dá por vencido. E afirma: “como eu disse num samba que fiz junto com Luiz Carlos Màximo, eu envergo mas não quebro. E vou fazer o Trem do Samba em 2020”.
A Riotur informou ao Voz das Comunidades que a Secretaria Municipal de Cultura está promovendo o BRT do Samba, que fará o caminho de Madureira até a Barra da Tijuca, zona oeste da cidade, no próximo sábado (30) – mas não comentou o cancelamento do Trem do Samba. Já o gabinete do prefeito Marcelo Crivella não respondeu a reportagem até o momento da publicação.