Texto: Laerte Breno
Foto: Laerte Breno
Ainda não sabem ler um homem negro. Há más interpretações e, boa parte do tempo, há uma visão racista que atinge nós, homens pretos. A masculinidade negra cresce ouvindo frases que, infelizmente, estão quase que naturalizadas socialmente e também lida com situações racistas rotineiras. A hipersexualização dos homens negros, a opressão a que este corpo está sujeita a passar e o fato de se preservarem sentimentalmente geram consequências severas e os atingem, afetando todo um processo de interação social no desenvolvimento da criança negra para o homem negro já adulto.
A violência racista é capaz de nos submeter à sequelas sem fim. A sociedade teima insistidamente em enquadrar o negro nos padrões do homem branco. Ela nos afasta de todo um patrimônio cultural e priva o sujeito negro dos seus costumes e hábitos. E essa violência bombardeia não só o homem negro, mas toda uma negritude, independentemente de gênero.
Durante todo o processo de construção da história, a masculinidade negra nos é apresentada como de pessoas primitivas, preguiçosas, selvagens, de má índole ou ‘super viris’. Isso leva o negro a ter a obrigatoriedade de sempre ser forte e corajoso, de internalizar seus sentimentos e externalizar aquele dito popular de “homem não chora”. Além disso, a questão da virilidade é rapidamente associada à ideia de homem selvagem, incansável e com bons atributos sexuais, o que também é associado à falta de civilidade e inteligência.
“No mundo branco em que eu vivo, rola muito medo de eu realmente ser tão bom quanto me autoproclamo ser. Porque ainda é inédito e, de maneira subconsciente, um afronte pro padrão da sociedade.” (Ygor Pinheiro)
Temos que parar com essa hipocrisia e reconhecer que a relação e interpretação social de um homem branco é totalmente diferente da masculinidade negra. Enquanto um homem negro de terno e gravata for lido somente, e unicamente, como um segurança de um shopping e um homem branco usando mesmo traje aparentar ser um empresário ou engenheiro, o racismo vai se manifestar da mais perversa forma. Não se nasce homem, se ensina a ser homem a partir das relações desses, mas quem impõe esse ensinamento é o discurso hegemônico do homem branco.
“Pra mim, ser homem negro tem a ver com receber esteriótipos de comportamento desde criança: a voz grossa, o jeito marrento, o fortão e o que mais tem que ter atitude “de homem”. Nessa logica de homem negro “agressiva”, sobra pouco espaço pra sensibilidade, pros afetos entre homens pretos do ponto de vista da amizade e da parceria. Crescemos isolados de outros homens pretos ou não tão próximos como poderíamos. Com certeza ser homem negro é mais do que isso que se espera de nós. Nossa capacidade ultrapassa as percepções. Só precisamos ter consciência coletiva disso.” (William Corrêa)
A concepção de beleza não deve ser somente e exclusivamente branca, que nos inferioriza e fere toda a nossa identidade. Precisamos a todo tempo nos resignificarmos como negro e propagar isso em todos os hábitos. Caso esse seu processo de se reafirmar como negro socialmente incomode alguém, isso é mais um motivo para você continuar.