Texto escrito por: Laerte Breno | Revisado por: Gabi Coelho
Ainda é terça-feira, mal vejo a hora do sábado chegar e sentar num barzinho para beber uma cervejinha gelada com a rapaziada, tá ligado? Tem que rolar música do Dilsinho pra ficar tudo ainda mais perfeito. Sinto falta desses momentos, ultimamente estou mais sobrevivendo do que vivendo. A faculdade não é esse mar de flores que a grande maioria pensa. Antes de entrar, achava que seria como aquele filme americano ‘‘American Pie”, mas na verdade estou chorando mais do que o dono do cachorro do filme “Marley e eu”.
O mais difícil é ter que encarar o busão lotado, me dói só de lembrar. Às vezes penso que os motoristas querem desafiar a lei da física, não importa quantas pessoas têm no ônibus, eles sempre irão colocar mais alguém. Ou simplesmente, eles levam o dito popular “No coração de mãe, sempre cabe mais um’’ muito a sério. Chego à faculdade e nem tive tempo de tomar café. O salgado daqui custa o triplo do preço comparado com o salgado da favela em que moro. A coxinha é do tamanho de um pão de queijo, absurdo! Mas eu tava com tanta fome, que gastar o pouco de grana que tinha era necessário.
Pedi aquela minúscula coxinha e um copo de café para despertar, pois em breve iria começar a aula com o professor mais chato de toda a universidade.
— Tio, me dá uma moeda para eu comprar uma comida?
Disse um menino, antes mesmo de eu dar a minha primeira mordida. Era uma criança bem magra, negra, aparentava ter uns 7 anos, descalço. Era nítido enxergar as marcas de fome nele, estava escrito na sua testa.
Ainda catei umas moedas na minha mochila, mas só encontrei 10 centavos e umas notinhas fiscais amassadas.
— Cara, eu não tenho nada aqui, mas posso dividir essa coxinha com você, o que acha?
O moleque olhou bem para a coxinha com uma cara de insatisfeito, aposto que pensou “Olha o tamanho disso e o cara ainda quer dividir?”. Decido então dar tudo para ele e ficar somente com o meu copo de café.
—Qual o seu nome?
Perguntei ao menino.
— Pedro
— Onde você mora?
— Moro ali na Maré
Para o meu espanto ele morava na mesma favela em que moro. Vi que tinha ganhado a atenção dele e logo começo a puxar uma conversa. Fiz umas perguntas para ele que me fez ouvir diversas respostas, mas uma em especial chamou a minha atenção.
— Você sabe ler?
—Não, tive que sair da escola. Minha mãe pediu para eu sair. Ela falou que eu preciso pedir dinheiro na rua para ter comida em casa.
Fiquei surpreso com aquela fato, perdi até fome.
Os dias se passaram e não via
mais o garoto. Havia comprado até uma revista em quadrinhos para ele do Batman, mas nada dele aparecer.
É sexta-feira e lá está ele vendendo bala para conseguir um prato de comida. Decido falar com ele.
— Qual foi, mano, tranquilo? Lembra de mim?
—Sim, o tio da coxinha pequena.
Dei uma risada de felicidade por lembrar daquele dia.
—Se liga, trouxe essa revista do Batman, vou te ensinar a ler, beleza?
—Já é! Eu gosto do Batman, queria ser como ele, mas sou diferente. Não sou rico, pra comprar uma bicicleta maneira e nunca que iria deixar minha morrer quando um bandido viesse assaltar ela. Deixa eu ir lá vender às minhas balas, tio. Minha mãe precisa de dinheiro pra comprar a janta de hoje.
E lá se foi o pequeno super-herói que fazia de tudo para salvar o seu mundo, já que o nosso está sem salvação.