ARTIGO DE OPINIÃO:
Neste mês de março, viralizou na internet uma notícia que retrata uma festa de 15 anos com o tema “escravidão”. Essa notícia demonstrou uma das várias faces do racismo, que é quando a negritude é tida como “exótica”, serve de fantasia e/ou quando a dor é transformada em motivo para diversão.
Esse pensamento racista, marcado por um estereótipo, por vezes, ridicularizado da pessoa negra marcou e a marca a história do cinema a partir do fenômeno conhecido como blackface. Esse fenômeno se caracteriza pela interpretação de personagens negros por atores brancos que, para isso, se pintam, “se vestem” e “se comportam” como negros. A demarcação de um comportamento que seria “típico de pessoas negras” está amplamente repleta de racismo, agravando o fato (grave por si só) de que pessoas brancas pintadas de preto já foram e ainda são escolhidas para os papéis de personagens negros ao invés dos próprios atores e atrizes negros.
Na contramão disso, é necessário que mais atores negros ocupem as telas brasileiras e internacionais, de maneira que os talentos da negritude sejam valorizados, ao mesmo tempo que isso amplia a representatividade, especialmente importante para crianças e jovens que passam a se reconhecer na TV. E com o intuito de dar oportunidades para novos talentos, a O2 filmes está com processo seletivo para atores negros. A ideia é que, até dia 31 de março, pessoas negras entre 17 e 32 anos enviem um vídeo gravando uma das cenas (ou todas) descritas no site da produtora de filmes como Cidade de Deus e Blindness. Falta pouco tempo, então corre lá! As cenas são simples, rápidas e podem ser gravadas com o celular mesmo.
Precisamos estar atentos a esses processos de seleção para que desperdicemos menos talentos do que a gente já desperdiça e, ao mesmo tempo, é necessário que leiamos com atenção cada proposta de forma que a gente não caia em mais representações racistas de nossa raça; afinal, como se não bastasse a gente ser representado por atores brancos por anos na história do cinema, de personagens negros caracterizados por estereótipos humilhantes sobre a raça, a TV já está cheia; ser negro significa muito mais do que vem sido mostrado nos espaços de representação artística.