No dicionário, a palavra ‘’favelado’’ significa: Diz-se da pessoa que vive numa favela, no conjunto de moradias populares, geralmente construídas em encostas de morros. Porém, para muitos, tal termo é infelizmente confundido com outra expressão, o ser ‘’mal-educado’’. Confesso que até mesmo eu já cometi o equívoco de falar frases do tipo ‘’Ai, para com esse jeito de favelado!”. Quando tomei consciência do que realmente é ser favelado e parei de reproduzir essa falácia, passei a refletir muito sobre essa nomenclatura.
Afinal, o que é ser favelado? Para essa pergunta, há várias respostas. Como consta no dicionário, defino como aquele indivíduo nascido e criado nos morros e favelas. Hoje eu carrego essa nomenclatura em meus braços, hoje eu me reconheço como favelado. Bato no peito e grito isso com orgulho! Porém, não foi tão fácil aceitar isso.
Durante a minha adolescência, o preconceito e mesmo a humilhação a quem eram submetidas às pessoas que moravam na favela me fizeram sentir vergonha e até mentir sobre a minha real origem. Negava-me a dizer que sou do Complexo da Maré. Quando me perguntavam em que bairro morava, respondia que era de Bonsucesso, uma localidade com moradores predominantemente de classe média. Mal sabia eu que estava ocultando a minha própria cultura. “Ser Favelado” me parecia algo muito ruim! Tomava aquilo como se fosse um castigo.
Assim como, em ponto de vista geral, quando um indivíduo nasce negro, ele não reconhece a sua negritude, a sociedade tenta insistentemente embranquece-lo. O mesmo acontece com o favelado. Cabe aos mesmos refletir sobre as próprias atitudes e a questionar as causas da pobreza e precariedade do seu lugar, bem como os porquês da atitude hostil alheia e assim redimensionar a posição social, permitindo-se entrar na juventude mais esclarecido sobre a realidade da favela e disposto a lutar pelo seu lugar de direito na cidade
Sendo assim, é por essas e outras que nós, favelados, devemos possuir consciência crítica da nossa própria história e condição para desconstruir dia após dia um estereótipo centenário que ainda nos mantém propositalmente neste não-lugar. Numa sociedade que nos enxerga como escória, ser favelado é resistir.