A favela é um lugar de muitos sons. Tem sempre uma maquininha em algum bar tocando O Rappa, Bebeto ou algum grupo de forró. Tem aquela vizinha que grita o menor na hora de almoçar para ir ao colégio. Tem também as muitas vozes misturadas na hora da feira e as buzinas de kombi que te chamam para a Praça de Inhaúma/Metrô ou mesmo para a Catedral/Norte Shopping. Os alegres sons da favela!
Mas existem sons que trazem silêncio e dor. Quando tiros são disparados entre becos e vielas, os sons são outros: o cachorro late, a Dona Maria manda as crianças “passarem” para casa e muitas vozes falam sobre “onde será que foi agora”. Em tempos de uso constante das redes sociais, áudios com o som dos tiros são enviados ao grupo da família para avisar que não é seguro chegar em casa naquele momento.
A música na maquininha parou!
Quem?!?
Não pode ser! Que isso cara! Ele era um cara tão bom… (silêncio e dor). Cada som ouvido naquele curto espaço de tempo em que uma rajada é disparada, pode ser o som de menos uma vida. Tirando ou não uma vida, a favela sempre é ferida por essa sonoridade. Aquele futebol é cortado por um tiro, aquela conversa de esquina perfurada por um estalo seco e agudo, aquela fala da professora interrompida por uma dor que atinge nossa alma.
O som da maquininha para. O futebol acaba. O Mc não canta. O Dj não toca. E a vida? Bom… A vida vai ficando um pouco mais triste. Mas não existe música se não existir silêncio. “O silêncio foi a primeira coisa que Deus inventou”. Mas, muito em breve, só o que teremos é o bom e velho O Rappa na maquininha do bar ao lado. O play continua firme em meio ao “Silêncio que precede o esporro”.