“Não vai faltar segurança na Olimpíada do Rio. De forma alguma, de maneira alguma”, garantiu, nessa quarta-feira (7), o Ministro da Defesa, Raul Jungmann, ao anunciar o impressionante contingente de 21 mil homens das Forças Armadas que fará a segurança da cidade para o evento mundial. No lugar do Ministro, eu não teria tanta certeza assim.
A ameaça se resume em três palavras: terrorismo islâmico radical. Com os recentes atentados de autoria assumida pelo Estado Islâmico (EI) na França, na Bélgica, e na Turquia, muito se tem falado sobre a possibilidade de um atentado similar nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, que começam em menos de um mês. A resposta padrão para essas especulações costuma ser a de que tais atos de terror são improváveis devido à política externa amistosa do Brasil, que supostamente faz com que os radicais não enxerguem o país como um “Inimigo do Islã”, livrando-nos, assim, de ataques.
Acontece que, com as sucessivas derrotas territoriais sofridas pelo grupo Estado Islâmico, o cenário mudou. Mais enfraquecido, a solução que o grupo encontrou para manter-se relevante politicamente, tendo poder de barganha, foi, basicamente, espalhar mais medo. A estratégia do grupo para continuar no topo da agenda mundial de medo e terror é simplesmente atacar mais. E, hoje, menos organizados ainda, os radicais estão recorrendo a ataques menores e mais localizados, com o nefasto objetivo de passar a impressão de que ninguém está seguro em lugar algum. Os ataques, que já foram coordenados, demandando uma capacidade organizacional bem complexa, tendem a torna-se menos coordenados e mais difusos, inclusive com a ação dos chamados “lobos solitários” (um simpatizante do EI que, por conta própria, organiza um ataque terrorista).
Pelo fato de nunca ter sido relevante nos diálogos internacionais sobre terrorismo, nosso país simplesmente não é preparado para lidar com uma ameaça desse tipo (e, realmente, há poucos meses não fazia sentido que fosse). Dada essa posição de fragilidade brasileira, lembremos que delegações esportivas do mundo inteiro, inclusive americanas e europeias, estarão em solo brasileiro para os Jogos Olímpicos. E aqui essas equipes ficam bem mais vulneráveis que em seus países de origem. Além disso, um evento de porte mundial como esse fornece o holofote do qual o EI desesperadamente necessita. Para piorar toda a situação, todas as autoridades parecem negligenciar a possibilidade de um ataque do gênero no decorrer do evento. Isso me preocupa.
Não, o Estado Islâmico não é organizado o suficiente no Brasil para promover um ataque extenso e coordenado como foi aquele que detonou as ruas de Paris. Não há a possibilidade de algo desse porte acontecer por aqui. O problema é que atentados pequenos, infelizmente, estão ao alcance do grupo, porque requerem quase nenhum material e basta que um de seus recrutas dispersos por aqui resolva agir. E, o pior: mesmo que as autoridades abrissem os olhos, é muito mais difícil de prever um ataque desse tipo, porque há menos rastros de comunicação para organizá-lo, dificultando sua identificação pelos serviços de inteligência. E, não é nem preciso mencionar, independente do porte e do alcance, qualquer ato de terror é, além de repudiável, intimidador.
Enquanto os Jogos Olímpicos não chegam, nos resta torcer para que, de alguma forma, as forças de segurança se preparem até lá para algum incidente do tipo – que, se Deus quiser, não irá acontecer. Mas precisamos estar preparados e cientes de que a possibilidade é mais real do que se pensava. E, quando os Jogos começarem, vamos celebrar com o espírito positivo brasileiro de sempre. O espírito Olímpico precisa ser mais forte do que nunca, e é nossa missão enquanto brasileiros manter a tocha acesa por mais uma geração. Os terroristas começam a ganhar a batalha quando o medo nos consome a ponto de comprometer a alegria de viver. E não vamos permitir que eles ganhem o jogo.