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O esculacho nos muleques na Saara foi um tapa na cara da sociedade

Quem anda na madrugada do Rio sabe que a coisa não é fácil. Não estou falando da saída daquela boate bacana: estou falando da rua mesmo, aquela onde a gente sabe que a pista tá salgada, que o esculacho pode estar na próxima esquina.
Já andei muito pela Saara, voltando da Lapa. O fato de serem ruas monitoradas e teoricamente seguras faz com que esta rota seja muito usada por quem precisa fazer o caminho da Lapa pra Central. Desconfio que já me senti mais seguro transitando por ali às quatro da manhã do que às quatro da tarde.
Mas o papo não é bem esse.
Três grafiteiros passavam pela Saara quando foram abordados por “seguranças” da área. As latas de spray foram usadas para pintar os rapazes, que também foram forçados a rolar nas suas tintas e tiveram o corpo inteiro pintado. Além disso, sofreram espancamentos com barras de ferro. Peraí, deixa eu ligar o caps lock:
USARAM BARRAS DE FERRO PARA ESPANCAR TRÊS RAPAZES QUE PORTAVAM TINTAS.
Um dos links do vídeo é este aqui, publicado pelo Dante, um dos grandes nomes do grafite carioca:
https://www.facebook.com/dante.urban.1/videos/10207269784035372/ (cenas fortes)
E não é um caso isolado não.
Teve o cara amarrado no poste. Teve os ataques aos ônibus vindo da zona norte em direção à praia. Todo dia é um esculacho, é uma máquina de revolta financiada pelo próprio Estado. O resultado é esse tipo de terrorismo. Ainda não conversei com alguém dos Direitos Humanos, mas tenho certeza que foram cometidos alguns vários crimes na cena.
Peraí, galera.
O que mais me assusta é que o Estado, que deveria aplicar a lei, é quem financia o ódio. É ele quem coloca o policial despreparado na rua. É o Estado que permite o empresário de ônibus parar de circular os coletivos de madrugada. É o Estado quem permite uma associação manter “seguranças” nas ruas fazendo o que bem entendem porque não é capaz de fornecer segurança suficiente. É o Estado que não se mexe pra influenciar a sociedade a favor da arte, da vida e do diálogo. É o Estado quem crie e aplica a lei – quando lhe convém, é claro.
Mas a lei da rua, parceiro, é totalmente diferente.
A rua cobra.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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