#Colunista Convidada
O Brasil está entre os dez países mais violentos do mundo com seus 58.000 homicídios por ano. O estado do Rio de Janeiro contribui com aproximadamente 5500 mortes para esse recorde. Em termos esta s cos, nossa situação atual é melhor do que era há dez anos, mas em termos sociais e políticos atingimos um limite histórico em 2015.
Depois de mortes que traumatizaram a cidade, entre elas a do menino Eduardo de Jesus, na Grota, que virou um caso de repercussão internacional, fechamos o ano com o fuzilamento de cinco jovens em Costa Barros. Todos mortos por uma polícia fora de controle.
Essa é uma marca da política de segurança do RJ que chama a atenção do mundo todo: as mortes provocadas pela ação policial em 2015, os chamados autos de resistência, vão chegar perto de 700. Quando eu viajo para o exterior e falo esses números, as pessoas não acreditam: como a própria polícia, que serve para proteger, consegue matar tanta gente? As vezes eles perguntam: e vocês deixam? Onde a polícia age com violência e desrespeito?
Quase todas as mortes por ação policial acontecem nas favelas ou perto delas. A polícia frequentemente age dentro das favelas como se tivesse licença para matar – principalmente se o alvo for um jovem negro – e age de outra maneira nos bairros ricos. Nas favelas a polícia se sente à vontade para fazer coisas que não faz em outras partes da cidade. Onde mais a PMERJ teria coragem de ocupar uma escola durante meses, como o CAIC Theóphilo de Souza Pinto, senão no Complexo do Alemão? Com os 1804 policiais que ocupam o Complexo, a PM terá que mudar se quiser sobreviver. Eu acho que chegamos a um ponto sem retorno. O secretário de segurança e o comandante da PM lamentam que os policiais sejam violentos, mostrando que o discurso das chefias e a prática da base da corporação não coincidem. Resta a nós, a sociedade, exigirmos que a polícia mude. Vamos continuar falando disso e nos manifestando até uma mudança radical ocorra.