Me sinto um privilegiado em manter contato com a turma das antigas. Do alto dos seus cabelos brancos, tenho lições valiosíssimas com o Professor Gênesis Torres – um dos maiores historiadores vivos da Baixada Fluminense, atual presidente do Fórum Cultural da Baixada Fluminense e criador do IPAHB (Instituto de Pesquisas Históricas da Baixada Fluminense).
Com ele, descobri que a Baixada é o berço de boa parte da nossa história. Por aqui passou muito ouro de Minas e haviam fazendas fundamentais para a economia carioca. É um privilégio pra poucos esse que tenho.
Uma das bandeiras do professor Gênesis é a aplicação da lei do Dia da Baixada. Pois é, temos uma lei estadual que obriga as escolas a ensinar história da Baixada Fluminense, mas que nunca foi aplicada. Anualmente, no 30 de abril, fazemos um trabalho hercúleo para rastrear ações em prol desta data.
Esse lance da falta de memória tem um reflexo bizarro por aqui.
Semana passada falei aqui na Voz que o sentimento de exclusão é democrático, e todo mundo sente isso sobre a Baixada. Nosso desconhecimento da própria história é uma das causas desse distanciamento da capital. Não nos sentimos parte do Rio, nem pertencentes ao nosso próprio território. Caso sério.
Na conversa mais recente que tive com Gênesis, percebemos que não temos sequer novos historiadores saindo do forno. Pouquíssimos têm se interessado em preencher a lacuna deixada por Ney Alberto, grande historiador iguaçuano falecido há alguns anos. Gênesis, Paulo Mainhard e tantos outros estudiosos da Baixada Fluminense estão envelhecendo e nós vivemos o risco da falta de continuidade e de registro.
Essa bolha vai estourar e tem data marcada: no próximo sábado, às 10h, nos encontraremos nas ruínas de Iguassu Velho. Além do costumeiro abandono, invasores estão circulando um sítio histórico que conta boa parte da história da Baixada Fluminense no século XIX.
Ao invés de um ponto turístico, ou de um museu como o do São Bento em Duque de Caxias, temos ruínas e poucos vestígios da história. Enquanto Duque de Caxias tem feito escavações arqueológicas ao mesmo tempo que mantém um teatro projetado por Niemeyer, a minha tão amada Nova Iguaçu virou as costas para o seu tesouro histórico e não promove a história nem a modernidade.
O que salva a cidade é um aparelho cultural que ironicamente leva o nome de quem? Sim, do Ney Alberto.
Máximo respeito a todas as gerações que fizeram história na Baixada.