Na favela, a maioria dos negócios são comandados por mulheres, seja por necessidade ou pela oportunidade escassa de crescimento profissional. Alguns desses empreendimentos nascem de uma atividade entendida socialmente como “função feminina” e pela falta de oportunidades no mercado de trabalho, especialmente para as mães. Mesmo com os desafios, porém, o empreendedorismo feminino é responsável por empregar um grande número de mulheres no Brasil, criando uma rede feminina de trabalho.
Segundo os dados do NÓS (Novo Outdoor Social) de 2023, as mulheres lideram cerca de 60% dos negócios em território de favela , sendo a maioria pretas. Áurea Ramos, 56 anos, é costureira e cria da Canitar, no CPX. Ela conta que o contato com o ramo se deu por uma necessidade de sobrevivência.
“Com 14 anos, eu fui trabalhar em uma fábrica como aprendiz de costureira. A gente era tratada igual bicho, não podia olhar pro lado, nem levantar a cabeça. Quando eu comecei, a primeira coisa que eu queria fazer era empreender e proporcionar para as funcionárias um tratamento diferente aqui no trabalho”, conta.
A empreendedora conseguiu comprar a primeira máquina aos 20 anos. Logo depois, engravidou e relembra a dificuldade desse momento inicial. “Fui mãe aos 21 anos, era só eu com 2 máquinas. Colocava minha filha na caixinha de roupa e ficava trabalhando fazendo blusão. Passei para 4 máquinas, depois construí um galpão com 8 máquinas no Alemão, aos pouquinhos”, detalha.
O setor de confecção é o segundo maior empregador da indústria, ficando atrás apenas do setor de alimentação. De acordo com dados deste ano levantados pela Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção), 60% do quadro de funcionários do ramo é composto por mulheres.
Mulher emprega mulher
Em levantamento feito pelo Sebrae em parceria com o Global Entrepreneurship Monitor em 2021, 73% dos negócios das mulheres têm mais funcionárias. Em pesquisa do Instituto Rede Mulher Empreendedora no ano anterior, esse dado também já era apontado, demonstrando que 7 em cada 10 empreendedoras possuem sócias mulheres.
A fábrica de Áurea Ramos emprega 300 mulheres e 21 homens. “100% das funcionárias são de favelas, sem exceção, quase metade do Complexo do Alemão. As demais são de variadas partes incluindo a Maré, Manguinhos e até favelas da baixada fluminense e Caxias”, revela a empreendedora.
Hoje, a Batu Kids possui 4 galpões, todos no Complexo do Alemão. Com 321 funcionários, produz mais de 60 mil peças por mês e é o maior fornecedor do Grupo Soma, responsável pelas peças da marca Farm.