‘Mães de Acari’ é o legado de uma luta incessante contra a violência e omissão do Estado diante dos assassinatos de jovens negros e favelados. Na Semana Municipal em Memória das Vítimas da Violência Armada, as representantes do movimento histórico receberam a maior honraria da cidade do Rio de Janeiro, a Medalha Pedro Ernesto, proposta pela vereadora Monica Cunha (Psol).
Há 34 anos, o movimento tem sido precursor da luta contra a violência armada do Estado, inspirando a luta de diversas mães que sofreram com a política de segurança pública nas décadas que se seguiram. Além dessas mães, outros 160 familiares de vítimas de violência do Estado foram homenageados com moção de louvor e reconhecimento por sua luta por justiça.
Entre esses familiares, estão: a mãe da jovem Agatha Felix, Vanessa, a mãe de Thiago Flausino, Priscilla Menezes Gomes de Souza, Bruna Silva, mãe de Marcos Vinicius Silva e representantes dos movimentos Mães de Manguinhos, Mães sem Fronteiras, Mães de Niterói, Mães da Baixada, entre outros.
Mães de Acari
No dia 26 de julho de 1990, uma tragédia modificou para sempre a vida de 10 mães, na comunidade de Acari, zona norte do Rio de Janeiro, trazendo sofrimento e muita dor. Jovens e adolescentes saíram para se divertir em um sítio, em Suruí, município de Magé, Baixada Fluminense, e dali foram retirados, levados por um grupo de extermínio, composto por policiais, e nunca mais foram encontrados.
Diante do silêncio institucional das autoridades e da falta de resposta sobre os assassinatos das 11 vítimas, as Mães de Acari se organizaram e passaram a denunciar a omissão do Estado, buscando por meios próprios a resposta que lhes era negada. Ao longo desta busca, Edmea da Silva Euzébio, uma das lideranças do movimento, foi executada a queima-roupa, no Centro da cidade do Rio. Apesar disso, o movimento seguiu na luta, com grande repercussão nacional e internacional, e inspirou diversos outros ao longo das décadas seguintes
Em outubro de 2023, o Brasil começou a ser julgado na Corte Interamericana de Direitos Humanos pelas mortes das 11 vítimas, bem como pela omissão nas investigações sobre os crimes.