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Meio milhão de cariocas não tem o que comer; lares chefiados por mulheres negras são maioria em insegurança alimentar

Mobilização comunitária auxilia famílias, mas Estado deve ser responsável pelo direito à alimentação
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

No Rio de Janeiro, meio milhão de cariocas não têm o que comer ou só se alimentam uma vez por dia, segundo o Mapa da Fome 2024.

Menos de 3% das famílias brasileiras concentram 20% de toda renda do país, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Enquanto isso, famílias em vulnerabilidade social sofrem com o vazio do prato. 

 Pobreza e a fome tem raça e gênero

Cerca de 22% dos lares chefiados por mulheres negras estão expostos à insegurança alimentar, de acordo com o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar, divulgado em 2023, conduzido pela Rede PENSSAN. 

No Complexo do Alemão, Ana Alice dos Santos, de 60 anos, luta todos os dias para garantir suas refeições. Com o falecimento da filha, ela parou de trabalhar para cuidar dos quatro netos. Para complementar o valor que recebe do Bolsa Família, ela vende recicláveis e, leva e busca crianças do morro para a escola. Apesar do esforço, nem sempre é possível garantir a refeição do dia seguinte.

Dona Ana luta para garantir as refeições dos netos
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

“Tudo que está aqui eu ganhei. Para comprar eu não tenho condições. É a pior coisa você deitar a cabeça no travesseiro e ficar: ‘Ai meu Deus, como vou fazer café se não tem um pó? Como vou colocar feijão no fogo se não tem?’ ”, conta dona Ana.

A insegurança alimentar possui três níveis: leve, moderado e grave. O grau leve se refere a uma piora na qualidade dos alimentos. Já o moderado está ligado a uma modificação nos padrões de alimentação e redução na quantidade ingerida por adultos. Enquanto o nível grave acontece quando há uma redução geral na quantidade de alimentos, de maneira que, até as crianças ficam sem ter o que comer. 

Solidariedade faz a diferença

A família de dona Ana é atendida pelo Grupo Alemão Solidário, um organização social que distribui cestas básicas e realiza atividades para crianças no Complexo do Alemão. O projeto existe há 13 anos e conta com o apoio de uma rede de doadores. No entanto, após a pandemia, as arrecadações diminuíram bastante. 

“Quando eu consigo montar 30 cestas no mês, eu fico feliz da vida. Eu tenho que ficar contando as doações e até selecionar as famílias. Até ajudar fica difícil. Tem gente que não tem o que dar para os filhos, tem criança que só almoça, porque vai pra escola. Enquanto me fizer bem e eu estiver ajudando o outro, eu vou continuar” desabafa Mayse Freitas, 66 anos, fundadora do GAS.

Mayse Freitas doa cestas básicas no Complexo do Alemão há mais de dez anos
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Neste mês, o Grupo Alemão Solidário irá realizar uma festa de dia das crianças para os pequeninos do CPX e está aceitando doações de brinquedos e roupas.Para colaborar, entre em contato através do número 21988881452.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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