Semana passada estive resfriado. Desde criança, a sensação de impotência trazida pela enfermidade me faz pensativo. Os médicos e os pais insistem em dizer que a gripe exige repouso, mas minha experiência prática sempre me mostrou que um resfriado bem cuidado dura uma semana, e um resfriado mal cuidado dura oito dias. Os remédios de nada valem: aliviam alguns sintomas, mas não curam o problema pela origem.
A fragilidade trazida pela doença me inquieta. A ideia de sentir-me tão frágil e limitado e ao mesmo tempo não poder fazer nada a respeito me é aterrorizante. A enfermidade traz, com ela, um período de reflexão: ela nos faz sentir mais humanos. As limitações que vem com um simples resfriado servem para nos recordar das nossas próprias limitações humanas. É quando estamos com as narinas obstruídas que percebemos a dádiva que é respirar livremente, e é quando estamos com menos energia que valorizamos a disposição para uma corrida pelas ruas da cidade.
A debilidade nos convida a retornar ao essencial, porque um corpo enfermo não suporta o supérfluo. A condição precária nos devolve ao que realmente importa. A doença é um ótimo momento para olharmos para dentro e alimentarmos a alma. É tempo de recuo tático, de revisão de rumo, de descobrir o que é que de fato nos faz levantar da cama todos os dias de manhã. É tempo de repensar o propósito da existência e avaliar se estamos agindo de acordo com ele.
O tempo é inexorável, e em uma semana o resfriado deve ir embora. Os sete –ou oito- dias passarão, seja lá o que for feito nesse intervalo. Resta, a cada um de nós, a escolha: passar a semana reclamando da vida ou tirar proveito da situação para descobrir o “lado bom” de estar resfriado, alimentando as necessidades e reflexões mais íntimas do nosso ser, encerrando o ciclo da doença com força interior e humanidade muito mais intensas. Eu fico com a segunda opção.