Pois é, vim chover no molhado mais uma vez. Tô me superando na abordagem do óbvio – e a autocrítica é uma das muitas características ausentes na figura do macho alfa.
Cresci sendo o nerd da turma. Aquele comunistazinho pentelho no meio da criançada. Lembro dos anos 90, quando convenci a diretoria a termos dois times de futebol na minha classe: era campeonato escolar e só podia ter um time por turma, tipo seleção. Eu sempre fui perna de pau, como todo bom nerd, mas não queria ficar de fora do furdunço, como todo bom comunistazinho. Mesmo sendo o segundo pior da turma, longe de ser um sucesso entre a mulherada, ou melhor, entre as menininhas, consegui mobilizar um “time B”, com os segundos melhores da turma. Até arranquei o Alexander do time principal, sob a promessa de fama e influência do Rodrigo Portuga, sobrinho do dono da escola, que arrastei na empreitada. Deu certo. Virei titular (comunista mas nem tanto), mas passei a faixa de capitão pro Alex. Sem nada a perder, o time jogava bola cantando e fazendo piada durantes as partidas. Sem nenhum compromisso com o êxito, o time ironicamente chamado de “Barcelona” emplacou uma sequência de vitórias. A seleção da turma (equipe principal), inclusive, chegou a tremer diante de nós.
Nunca me encaixei na imagem clássica do macho alfa.
Oras, são tempos de redefinição da imagem do lenhador barbudo cracudão. A galera tá rediscutindo a heterossexualidade desde os anos 70. O que é mesmo “ser homem” hoje em dia? O que é sexy? A música do momento até um tempo atrás era a do “gordinho gostoso”. O cara mais popular do Brasil tem um cabelão liso e canta suas safadezas por aí sem perder o respeito pelas mulheres.
Por essas e outras, afirmo: nós, homens, precisamos nos livrar do macho alfa clássico.
Entenda, querido leitor, não tenho nada contra os brutos – afinal, eles também amam. Mas algo que deu muito sentido à minha trajetória na vida é uma frase que se tornou um mantra: “ser o protagonista da minha própria história”. Isso vale pra qualquer um que deseja ser alfa – seja “macho” ou apenas um cara qualquer.
Acredito que liderança se conquista pelo exemplo. E isso vai totalmente contrário à figura imposta do macho alfa e seu exemplo Pablístico de que homem não chora. Gente, estamos em 2016: definir um homem por uma estética tão arcaica já tá fora de moda. Pega mal.
O macho alfa moderno chora.
E faz a unha, tira a cutítula, usa hidratante, corta o cabelo na tesoura, usa calça slim, lê Men’s Health…