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Na localidade do Capão, moradores sofrem com risco de desabamento

Para sair e chegar em casa, é preciso improvisar o caminho com tábuas de madeira; o perigo de tudo vir abaixo é constante
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

José Augusto Bernardo, morador do Capão, localizado no Complexo do Alemão, não tem nem ao menos direito de acessar a própria casa com segurança. O homem de 43 anos, que vive na Travessa do Cruzeiro, é aposentado por invalidez, pois tem deficiência motora nas pernas e braços. Se para uma pessoa sem nenhum tipo de limitação física já é difícil a locomoção, para Augusto o desafio é ainda maior. A calçada para o caminho de entrada e saída da sua residência cedeu há cerca de 5 anos e a situação só piora. Como uma solução imediata, para se mover, José Augusto improvisou uma ponte com tábuas. 

Tábua foi a solução encontrada pelo morador José Augusto para se deslocar. 
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

Embaixo da ponte, tudo é oco e não há estabilidade. Com isso, o lugar corre o risco de desabar de vez com as chuvas, o que aumenta a insegurança. O aposentado também fica sem condições de fazer as atividades básicas, como receber produtos em casa.  “Gás e comida, eu tenho que botar uma tábua. Eu boto uma tábua aí, no outro dia, estão roubando”, afirma o morador.

José Augusto na porta da sua casa mostra uma parte da ponte improvisada.
Foto: Reprodução

A situação se agrava quando afeta também a vida familiar de Augusto. Segundo ele, corre na justiça um processo pela guarda da filha e, por isso, não pode ficar na residência onde vive há mais de dez anos. “Eu tô tentando sair de casa, pra fazer a mudança. Tô tentando levantar um dinheiro para isso”. Mas o homem afirma que até para conseguir o aluguel social tem sido complicado. A casa já está interditada e, com isso, José Augusto tentou adquirir o benefício na Secretaria de Habitação. No entanto, não teve sucesso na solicitação. “É revoltante eu ter que sair da minha casa e não ter nenhuma assistência”, diz. 

Segundo o aposentado, o juiz já concedeu um documento que ajudaria a conseguir o auxílio. “Eu expliquei a minha situação pro juiz, ele colocou como prioridade pra conseguir o aluguel social ou o programa Casa Verde e Amarela”, explica. 

Augusto também diz estar desiludido com os políticos e as lideranças da região que visitam a localidade e pouco fazem. “Eles estão esperando uma tragédia”, reforça. De acordo com ele, há anos somente visitas são feitas, mas nada é resolvido. O problema só piora, mas as promessas só aumentam. “Quando falaram comigo, eles disseram que iam fazer obra no Capão todo”. Assim, o voto de confiança foi quebrado e, conforme exposto por ele, já foi bloqueado nas redes por um político da região, devido às suas reclamações. 

 Um matagal se formou embaixo da casa de Augusto e dos vizinhos, após anos de abandono do Poder Público. O local corre risco de desabar a qualquer momento.
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

Perigo para outros moradores e respostas das autoridades

Uma moradora que não quis se identificar alega que está cansada de falar sobre o mesmo tema e não ter a situação resolvida. Segundo ela, o barranco, que segura as moradias, vai cair a qualquer momento. Além disso, um matagal surgiu, deixando o solo mais pesado, devido às chuvas. As casas de cima do Augusto, as do lado e as da frente, também correm perigo. “Não vão ser nem uma, nem duas, vão ser várias vítimas”, confirma a mulher.

Segundo ela, o local tem que ser aterrado, para dar sustentação. Mas a indignação com as lideranças e com o governo é a mesma. Ela não acredita mais que algo possa ser feito pela região. Esse sentimento também é compartilhado por outros moradores, exaustos com o problema que dura anos. 

A equipe do Voz das Comunidades entrou em contato com Delson, assessor do vereador Vitor Hugo, um dos políticos da região. De acordo com Delson, as burocracias atrapalham o rumo das obras. “Nós estamos correndo atrás. O Vitor Hugo fez um ofício. Um engenheiro da Secretaria de Conservação vai lá conosco”, explica o assessor. No entanto, ele ainda não deu previsão para o início da obra. 

Também foi relatada a situação do local ao vereador Luciano Medeiros. “Eu tive lá nesse caminho. Eu tô pleiteando essa obra pela prefeitura, mas até agora eu não tive autorização. Eu vou continuar cobrando”, afirma o vereador. Ele ainda diz que 100 milhões serão investidos em toda a parte do Capão e admite que o problema da Travessa do Cruzeiro poderia ser solucionado antes. Mas não falou nada sobre alguma medida emergencial relacionada a ponte.

Já a Secretaria de Conservação não retornou às tentativas de contato sobre o assunto, até o momento da divulgação da matéria. 

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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