Comer peixe na Sexta-feira Santa é uma tradição em muitas famílias brasileiras, mesmo aquelas que não são cristãs. No Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, até grupos de WhatsApp foram criados para organizar a venda do pescado, cujo quilo é vendido a sete reais. As pessoas são orientadas a chegarem uma hora antes; tudo bem organizado, afinal, os grupos somam mais de 1300 membros. Durante a Semana Santa, os caminhões com carregamento fresco se fizeram presentes em dois dias: terça-feira no Loteamento, quinta no Morro do Adeus.
A iniciativa, que é um projeto social, já existe há algum tempo em outras favelas do Rio de Janeiro e Baixada Fluminense. Mas, no Complexo do Alemão, a ajudante de cozinha Marina Souza, de 42 anos, foi quem se colocou à frente para fazer acontecer junto de um pastor de Nova Iguaçu. Já tem três meses que acontece não somente no Complexo do Alemão, como também no Complexo da Penha, nas localidades conhecidas como Morro da Fé e Sereno.
Marina, que é cria do CPX, conta que os moradores acharam a ideia dos grupos maravilhosa. “Tem muita gente que não tem condições de comprar um peixe na peixaria porque são caros”, comenta. A ajudante de cozinha ressalta que, além da venda, também fazem doações para as pessoas que realmente não têm condições financeiras de pagar.
Ela explica que não existe uma peixaria física. “A gente traz um caminhão fechado com vários tipos de peixe . Aí escolhi um local da comunidade de fácil acesso para todos.” Tem vezes que é mais de um caminhão; na terça foram três de uma vez. Marina confessa ainda que o peixe da Sexta-feira Santa da sua família já está garantido: “Aqui é tradição!”
Não é só na Semana Santa
Apesar do boom na Semana Santa, Marina afirma: “O projeto vai continuar depois da Semana Santa”. Ela pontuou que a procura foi maior por conta da data e que o valor subiu um pouco, de cinco para sete reais o quilo. “A gente marca a data com antecedência para as pessoas saberem, é de 15 em 15 dias”, reforça.
Ou seja, a Semana Santa vai passar e quem é fã de comprar aquele peixinho que cabe no orçamento – quem não? – vai poder continuar contando com os grupos existentes para ficar por dentro.