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Basquete no morro do Alemão atrai jogadores de diversos bairros

Basquete no morro do Alemão trouxe uma nova cultura e novos horizontes para a comunidade
Crianças são incentivadas pelo esporte praticado na favela Foto: Uendell Vinicius / Voz das Comunidades

O basquete é bastante valorizado e praticado nos Estados Unidos e possui a principal liga do mundo, a NBA. No Brasil, apesar de existirem times e estarem em competições, não é tão popular assim. Mas no Complexo do Alemão a garotada tem mostrado que o esporte tem seu valor aqui também. 

Organizado por Victor, Felipe, Nicollas, Júlio, Douglas e Rafael, o esporte começou a se destacar nas quadras do IAPI, que era a mais próxima na época. O grupo sempre teve o sonho de jogar basquete no morro do Alemão para não precisar se deslocar para longe o tempo todo. Os aros da antiga quadra eram pequenos e mal dava para jogar. Com o auxílio de amigos e da população, conseguiram apenas um aro novo e jogavam apenas na metade da quadra. Assim teve início os primeiros jogos na quadra da baiana.

Com o tempo a quadra começou a encher e surgiu a ideia de fazer uma competição. O torneio começou entre os moradores da comunidade no ano passado, no formato 3×3, e o grupo não esperava que o evento fosse ganhar tanta visibilidade. Vieram equipes de fora do Alemão e até times federados. Victor comentou sobre a projeção do primeiro torneio. “O primeiro torneio quando a gente começou teve muitos times da comunidade e a gente nem imaginava que ia ter tanto time assim. Tinha time que era da Baiana, da central, da Grota, das Casinhas, do Adeus. E a gente nem imaginava que ia ter tanto time assim, porque a gente não tinha como jogar basquete aqui perto. Então não tem como conhecer todo mundo na comunidade. A gente não sabe quem gosta, quem não gosta, quem joga, quem não joga”.

O projeto serviu para revelar a quantidade de pessoas que acompanham e que gostam de basquete, mas que, devido à falta de recursos e um lugar adequado, não podiam jogar. Esse primeiro torneio abriu portas para algo maior, pois os moradores começaram a se interessar pelo esporte e a praticá-lo. A receptividade foi tanta que um comerciante local ofereceu ajuda para fazer um segundo torneio. Dessa vez em um evento maior e com mais organização. A prefeitura do Rio também ajudou e a quadra foi revitalizada. Conseguiram medalhas, troféu e a associação de moradores do morro da baiana ajudou a contratar os juízes.

Victor, um dos organizadores do torneio de basquete
Foto: Uendell Vinicius / Voz das Comunidades

Júlio, um dos organizadores do torneio, destacou a importância da iniciativa na comunidade. “A gente trouxe uma cultura que não existia no Complexo do Alemão. É lindo ver um esporte novo na favela assim sabe, de uma forma tão orgânica, tão natural”, disse. Seguindo nesse universo do basquete de rua, nas quadras da Penha existia um time chamado “Penha State Warriors”, uma referência à equipe de basquete americana Golden State Warriros. Por causa disso, os amigos decidiram criar o time “Complex Suns “, que também faz referência à equipe Phoenix Suns. Mas quando o basquete começou no morro da baiana, a ideia era criar um nome que fizesse alusão ao próprio morro. Victor, então, decidiu misturar os nomes do morro da Baiana com o nome do bairro onde se passa a série “Todo Mundo Odeia o Chris”, Bad Stuy. “Po tem um bairro lá no Brooklyn que é a Bad Stuy, bairro do ‘Todo Mundo Odeia o Chris’. Aí casou, B-Stuy, Bad Stuy”.

Assim surgiu a equipe B-Stuy. A letra B, inicial de “baiana” e o Stuy de “Bad Stuy”. O lema do time é: “Aqui é tempo ruim o tempo todo”. Segundo os jogadores do time, o basquete é um esporte em que acontece muito contato físico. O alcance do projeto já incentiva as crianças a se envolverem com o esporte. Os pequenos já reconhecem os jogadores do time e pedem para jogar e para ensinarem. O grupo também pensa em ter uma equipe de juízes formados na própria comunidade no futuro.

Victor mencionou que tem muita coisa para se descobrir em relação ao basquete na comunidade. “É maneiro. É uma coisa nova pra comunidade, não todo mundo, mas a maioria não conhece, não acompanha, nunca viu as pessoas jogando assim, aí passa e acha diferente. É um esporte que não é normal aqui no Brasil, que brasileiro não sabe jogar, mas, se parar pra assistir, tem muita gente boa aqui”. A quadra recebe jogadores de diversos bairros diferentes. Nicollas se animou com a quantidade de mensagens que recebe em seu perfil nas redes sociais para tirar dúvidas sobre como chegar na quadra. “Muita gente pergunta no grupo onde fica a quadra. Eu não sei porque nunca pedi um uber pra cá, talvez não suba, mas a gente busca eles lá embaixo pra poder jogar. Quanto mais gente melhor, aqui no basquete.”

Depois de duas edições do campeonato de basquete, a quadra da baiana se tornou conhecida. O time B-Stuy possui um perfil no Instagram “@baskabstuy” onde divulgam os horários dos jogos e as datas dos torneios. Durante a semana tem jogo toda segunda, quarta e sexta, às 20h.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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