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Empreendedora do CPX desenvolve técnica de alongamento de unhas que não danifica

A trajetória de Alessandra Santos, a Rainha da Favela
A partir do seu trabalho a Rainha da Favela gera empregos Foto: Marlon Soares / Voz das Comunidades

De acordo com a pesquisa Empreendedorismo Feminino, do Sebrae, com base em dados do quarto trimestre de 2023, no Brasil há um total de 30 milhões de empreendedoras. A pesquisa revela ainda que o sudeste é a região que concentra a maior parte de empreendedoras mulheres, com 44,4%. Um dos segmentos de empreendedorismo que mais ganha espaço nas favelas é o setor de beleza, entre eles o de manicure. 

Entre as técnicas mais usadas pelas designers de unhas está o  alongamento de unhas. Essa é uma tendência que remete à cultura das mulheres negras, desde as rainhas do Egito Antigo – que utilizavam marfim, ouro e ossos – até os anos 1990, quando a cultura hip-hop o eternizou na moda. 

Nos dias de hoje, esse artifício vai além da beleza e estética, servindo como uma verdadeira ferramenta de transformação de vida e realidade. Um exemplo é o de Alessandra Santos, de 36 anos, designer de unhas do Complexo do Alemão, a Rainha da Favela.

A profissional iniciou sua jornada como uma manicure comum na calçada de sua casa, na Fazendinha, mudando de lugar conforme o sol se punha. Ela relembra como tudo aconteceu rápido: 

“Nos dois primeiros dias, atendi uma ou duas clientes e no quarto dia, trabalhei das nove da manhã até às cinco do dia seguinte. Foi tudo muito rápido e percebi que esse era o caminho que eu deveria seguir”. 

Alessandra Santos estudou sobre os componentes do produto para desenvolver sua fórmula
Foto: Marlon Soares / Voz das Comunidades

Ela se intitula uma referência no mercado e, para que isso aconteça, envolve não apenas a qualidade do serviço prestado, mas também a capacidade de adaptá-lo às necessidades das clientes. Se o problema delas é a falta de tempo; compromissos que dificultam os cuidados com as unhas; distância ou outros fatores, a Rainha da Favela tem a solução: 

Ela criou a unha postiça realista que pode ser retirada sem prejudicar a natural. Essa  solução é mais econômica do que os alongamentos de unha comuns e se tornou a primeira tendência de nail design (design de unha) no mundo da beleza.

Alessandra desenvolveu seu próprio produto – chamado Acrigel Liquid e se tornou o único produto utilizado na construção de unhas em seu estúdio. E tem mais…

Hoje, a experiência do usuário é fundamental para o ciclo de vendas da empreendedora, por isso, Alessandra pensa em cada detalhe. Além da representatividade da postiça realista, ela vende dois tipos de kits: o de sobrevivência e o  profissional – nos valores de R$60 e R$250 respectivamente. 

“Se a cliente mora longe ou quebrou a unha, o kit de sobrevivência permite que ela cole sua unha. O Acrigel Liquid também funciona como cola. E, se a cliente deseja fazer as próprias unhas, o kit profissional é a solução ideal”, contou.

Essa conexão com os clientes e com sua forma de trabalho gerou a consolidação de sua carreira como referência máxima no mundo da beleza.

“As clientes já chegam pedindo somente o Acrigel Liquid. Se ofereço qualquer outro produto,  elas ficam bravas comigo. Já houve dias em que pessoas vieram aqui com referências de decoração minhas, sem saber. Até mesmo clientes de fora vêm até aqui para fazer as unhas”, comenta a empresária que se orgulha ao compartilhar a relação afetuosa que mantém com suas clientes.

 “Foi tudo muito rápido e percebi que esse era o caminho que eu deveria seguir”, comenta Alessandra
Foto: Marlon Soares / Voz das Comunidades

E a Rainha da Favela não guarda os conhecimentos só para si. Ela também é instrutora de cursos e desenvolve os projetos para adultos e crianças, com o objetivo de ajudar seus alunos a alcançar liberdade financeira. Não é atoa que ela tem título de nobreza. 

Alessandra diz que a “Rainha da Favela” surgiu a partir de uma senhora que chamou o seu salão antigo de “favela”, porque era feito todo de palete, era pequeno e sempre tinha muito som alto e “farra”. E ao ver a dona do lugar, a mulher disse que ela era uma rainha. Para dar um novo significado, surgiu a “rainha da favela”. 

Alessandra, assim como outras mulheres negras, é prova de que beleza e estética são mais do que aparência. Envolvem liberdade e independência financeira. Seu trabalho não apenas transforma sua vida, mas também emancipa toda uma comunidade de mulheres e pessoas negras, fazendo jus ao título de rainha. Não apenas governa, mas também impulsiona os que a cercam.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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