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‘Quem está sendo registrada, tem que se reconhecer’, diz Kamila Camilo, artista da Maré que assina a exposição em cartaz FAVELADAS

Com curadoria de Jean Carlos Azuos e Rosilene Milotti, ambos também da Maré, a mostra fotográfica ficará no Observatório de Favelas até agosto
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

“Favelada faz arte”, disse Kamila Camilo. Mulher preta e cria dos Tijolinhos, no Complexo da Maré, ela é também a artista que assina a exposição ‘FAVELADAS’, inaugurada na última quinta-feira (20), no Observatório da Maré, onde ficará durante três meses. Com curadoria de Jean Carlos Azuos e Rosilene Milotti, ambos também da Maré, a mostra fotográfica representa mulheres do território ‘mareense’ que são plurais e singulares em toda a sua complexidade favelada. Os registros capturam as bonitas silhuetas dos dias, as resistências, os cuidados, o acolhimento e diversos outros símbolos eternizados pelas lentes da fotógrafa.

FAVELADAS é uma exposição que vem de dentro do meu coração. É um tema muito urgente para pautarmos esses dias, já que favelado é um termo usado de forma pejorativa em que muitas vezes somos julgados, criticados e abordados violentamente. Faveladas vem para quebrar o estereótipo de má educação. Favelada é aquela mulher que sonha, que deseja, que planeja, que levanta cedo independente da violência territorial. Sai no meio da bala, sai no meio do caveirão”, explica a artista.

Kamila reflete que quando diz que a mulher favelada faz arte, ela lembra de quando as pessoas falavam que não daria em nada. “Todo dia que eu ia nas ruas para fotografar, eu sabia que o sonho se tornaria realidade em algum momento”, disse ela, que ano passado assinou sua primeira exposição, chamada ‘Mulheres do Tijolinho’.

Uma das diferenças que gritam na arte de Kamila é o afeto com suas modelos. Ela destaca que questionou de uma delas se via na fotografia. “Me vejo, essa sou eu; feliz mesmo com todas as minha dificuldades”, respondeu a mulher à ela.

Para mim, o que faz sentido é quem está sendo registrado se reconhecer, finaliza.

Amana da Silva, um dos rostos de FAVELADAS

Amana ao lado de sua fotografia
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Amana da Silva, de 30 anos, é uma das faveladas que foi retratada pelas lentes de Kamila. Ela estava presente na inauguração com sua barriga de 7 meses, dois meses após o registro fotográfico, que se chama ‘Nascimento’. “Fico muito feliz em me ver na exposição. Essa foto foi tirada em um domingo. A Kamilla apareceu, disse que me fotografaria e eu respondi: para de graça! Ela disse que era sério, então fui tomar banho e voltei para a foto. Eu estava toda bagunçada, não tinha coragem de tirar foto antes”, observa a moradora da Nova Maré.

A curadoria por Jean e Rosilene

Jean e Rosilene (com o microfone) estão no centro da imagem
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

“A Kamila ama esse território, então a gente percebe pelas fotos um envolvimento, que não é só a partilha de uma imagem, mas sim a partilha de presença”, observa o curador Jean Carlos Azuos.

Ele ressalta que estar com a Kamila é sempre inquietador, no sentido de como ela se movimenta, já que a artista é uma pessoa que experimenta muito a rua e a exposição vinha contando a história dessas pessoas. “E precisávamos de uma outra curadoria mulher já que a exposição é sobre mulheres faveladas. Além de curador, eu sou crítico do trabalho da Kamila. Faveladas é um nome que vem da Rosi Milotti e a partir daí pensamos de que maneira a gente revira o estigma que traz essa palavra? Então a gente vai disputar essa palavra a partir de suas belezas. E que belezas são essas? São essas mulheres que aparecem bebendo sua cerveja, nas portas de suas casas, quase nos convidando para entrar pelas lentes. Então essa exposição é sobre esses encontros”, pontua.

A curadora Rosilene Milotti destaca: “falar de FAVELADAS é falar da gente. Então, em primeiro lugar assim, a gente está falando desse lugar, desse chão e somente de tentar mostrar um pouco desse desse universo de mulheres fortes, acolhedoras e que são sensíveis. Que trabalham e que usam esse lugar, esse espaço de muitas formas. Então, a favela é acolhimento, é um território de luta, de dor, mas não é desse lugar que estamos falando, mas sim do lugar de alegria, de um lugar de descanso. Falar de FAVELADAS é dos nossos múltiplos lugares”.

Endereço

Rua Teixeira Ribeiro, 535, Nova Holanda, na Maré, Zona Norte do Rio.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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