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OPINIÃO | Precisamos falar de resiliência e racismo ambiental nas eleições municipais

Em tempos de eleição municipal, todo candidato é verde, apoiador do meio ambiente. Mas durante os quatro anos de mandato, a população sofre com a falta de políticas públicas ambientais.
Rocinha sofre com destruição causada pela chuva. Foto: Jorge Kadinho/ Rocinha em Foco

 Chuvas torrenciais e calor extremo são parte da rotina. Nesse ano que passou: quantas vezes você chegou atrasado pro trabalho porque choveu demais e alagou sua rua? Ou quantas vezes fez tanto calor que você não conseguiu dormir? Tudo isso está interligado ao momento que vivemos. Esse ano não é só o mais quente da história. Todo ano vai ser o mais quente da história até que os governantes façam alguma coisa. 

Dito isso, qual a proposta concreta ambiental dos candidatos a prefeito do Rio de Janeiro? A cidade PRECISA ser resiliente! Resiliência é a capacidade de indivíduos, comunidades, instituições, negócios e sistemas de uma cidade de sobreviver, adaptar-se e prosperar, não importando os choques e estresses a que são submetidos. Simplificando: a crise climática tá aqui, bora criar políticas públicas de adaptação para reduzir os danos. “A cidade do Rio quer ser referência global em resiliência até 2035” dizia o sumário executivo do Rio Resiliente, programa da gestão Eduardo Paes que foi abandonado por Crivella. Paes era líder do C40, grupo de prefeitos de megacidades dedicados a preparar as cidades e suas populações para o aquecimento global e o aumento de eventos climáticos intensos.O Rio Resiliente tinha objetivos como: desenvolver e adaptar espaços urbanos verdes, frescos, seguros e flexíveis, estratégia hídrica e de energia solar, saneamento universal entre outros. O Rio foi a primeira cidade do Brasil a ter uma estratégia assim. 

A cidade maravilhosa necessita de preparo para enfrentar e responder a eventos climáticos extremos. A estratégia está pronta. O prefeito Marcelo Crivella escolheu não usar, num ato de negacionismo puro. Quando uma liderança política não escuta a ciência, os principais atingidos por essa omissão são os mais pobres e os negros. Já está acontecendo na nossa vida e não percebemos. O colapso ambiental é uma realidade. Essa segregação que o estado promove é o racismo ambiental, que está interligado com questões raciais e territoriais. Para explicar o racismo ambiental e sua questão territorial no Rio de Janeiro, vamos usar os mapas raciais do Hugo Nicolau Barbosa de Gusmão, estudante de Geografia na USP, baseados no CENSO 2010. Os pontos coloridos no mapa representam a quantidade de brancos (pontos azuis), negros (pontos vermelhos) e pardos (pontos verdes) que vivem no Rio de Janeiro, segundo dados do Censo de 2010, realizado pelo IBGE.

Os brancos estão espalhados pela cidade, mas se concentram na Zona Sul. A porcentagem chega a 83%.

Pretos e pardos estão concentrados na Zona Norte e Oeste, principalmente nas periferias.

Temos os dados, pretos e pardos estão concentrados na Zona Norte e Oeste. Você deve estar se perguntando onde entra o racismo ambiental. Vou dar alguns exemplos de notícias de jornais, coisas que aconteceram na nossa cidade nos últimos anos:

  • Da lista das 11 ruas mais arborizadas do Rio de Janeiro: 6 delas são no eixo Centro-Zona Sul. 2 na Barra. 1 no Grajaú. 1 na Tijuca. 1 em Bangu.
  • Em um dia, a máxima registrada no Forte de Copacabana foi de 31,1 graus. Em Santa Cruz, na Zona Oeste, ela atingiu os 38,4º C.
  • A “orla suburbana” abrange as baías da Guanabara, de Sepetiba e Paquetá, totalizando quase 45km de extensão. Todas as praias estão impróprias pra banho.
  • Os jovens que nadam no esgoto, porque tem medo de serem detidos na ida à praia. Porque não tem área de lazer. Onde? Manguinhos
  • A maior siderúrgica da América Latina Ternium (antiga TKCSA) fica em Santa Cruz. Doenças respiratórias, chuvas de prata são as consequências para os moradores. É a maior consumidora de água do estado. 
  • Crise da água da Cedae atingiu com força as comunidades. Morador que não tem dinheiro pra comprar água mineral e tá bebendo contaminada.
  • Enquanto as obras contra deslizamento estão paradas em 31 favelas do Rio, o projeto de contenção de chuvas no Jardim Botânico está a todo vapor.
  • Um estudo da Fiocruz mostrou que, entre janeiro a abril de 2016, a cada 100 mil habitantes do Complexo do Alemão, 1.922 foram infectados pela dengue. Em todo o município, a proporção foi de 272 por 100 mil habitantes – SETE VEZES menor que no complexo.

Lendo essas notícias, concluímos que os moradores da periferia e do subúrbio não são levados em consideração quando o governo cria políticas públicas para o meio ambiente. Os moradores em sua maioria são pretos e pardos, segundo o mapa que acabamos de ver. Tudo se conectou. O exemplo prático de como o racismo ambiental age no Rio de Janeiro. A nossa constituição diz que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Mas isso não acontece. Quem lucra e quem sofre com os impactos? Todos esses exemplos são violações de direitos humanos. Praticadas pelo estado ou empresas internacionais contra a população negra e pobre. É necessário debater o colapso ambiental com consciência de classe, pautando o racismo e colonialismo. É de extrema urgência levantar essa pauta durante as eleições. Será que seu candidato realmente se importa com tudo isso? Fica o questionamento… 

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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