Oficina Teatral Joy Produz movimenta a Vila Kennedy 

Iniciativa foca em jovens que busca usar a arte como ferramenta de transformação individual e social
Oficina Teatral Joy Produz Foto: Uendell Vinícius / Voz das Comunidades

“Eles [a equipe de teatro] fazem a arte de falar o português na sua língua”, conta Thiago Gomes, aluno com deficiência auditiva da Oficina Teatral. Ou seja, o professor Marcelo Joy consegue tornar o teatro compreensível para todos os públicos, e atrativo também, para a favela. Marcelo destaca que todos precisam aprender a falar, mostrar a cara, seja na vida, nas ruas ou numa entrevista de emprego. Para todos os presentes no momento da entrevista, o teatro vai além do palco: é uma ferramenta de transformação pessoal e social. 

Em 2018, a segurança pública falhou nas instalações das UPPs e, com isso, ninguém queria dar aula de teatro na Vila Kennedy, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Foi neste contexto que nasceu a Oficina de Teatro do Joy Produz, no coração da VK, no Teatro Mário Lago VK. 

As aulas, gratuitas, acontecem todas às terças-feiras, das 15h às 18h, sob o comando de Marcelo Joy, também conhecido como Marcelo Antônio, de 54 anos. Cria da Vila Kennedy, ele afirma com orgulho: “Eu sou dos quatro cantos da VK [Vila Kennedy].” 

O professor Marcelo Joy e seus alunos Thiago Gomes, Carlos Henrique e Jhenifer Marques. 
Foto: Uendell Vinícius/ Voz das Comunidades  

A Oficina de Teatro Joy Produz acontece com o foco de ver jovens com a vida transformada, acompanhar conquistas deles. “Se eu vir um no caminho errado, numa parada ou numa mancada, eu sou aquele cara que tá na rua puxando a orelha”, explica o professor Marcelo. E continua. “Eu me lembro que, em 2017, ainda não tinha concluído o ensino médio. Mas a minha relação com a galera da oficina me motivou a voltar a estudar. Em 2019, eu já estava na UNIRIO”, conta Marcelo sobre a troca intensa com a arte teatral.  

Ninguém ensina a sonhar, muito menos a acreditar nos próprios sonhos. No teatro, aprende-se a enxergar a vida de outra forma e a acreditar que é possível. “A gente tem esse direito, não tem?”, destaca Marcelo. 

Além disso, cada um dos alunos foi destacando as mudanças que o teatro trouxe para suas vidas — entre elas: o gosto pela leitura, a desenvoltura para falar em público, a capacidade de se comunicar, de dar aulas, de subir ao palco e montar uma peça. E ainda desenvolvem outras habilidades, e trabalham, agora, nos bastidores operando a luz e som, cenografia, outras vezes, assumindo funções de figurinistas, maquiadores e assistentes de produção. 

O contato que acontece dentro do grupo da oficina, há mais de sete anos, impactou profundamente a vida dos familiares de cada aluno. Existe uma liberdade tão grande que é comum o professor tomar um café na casa de um, participar de aniversários, almoços. E mais do que isso: essa relação próxima permite fazer convites até mesmo para quem nunca gostou de teatro.  

“A gente dá liberdade para os pais assistirem às aulas, porque o teatro é realmente muito amplo. Aqui a gente convida, acolhe e mostra que o teatro é para todos”, destaca Marcelo Joy.  

“ARTE POR UM MUNDO MELHOR” o grito que todos os alunos expressam e conta também de um desejo de conseguir conectar o território através do teatro, levando as peças para montagens itinerantes dentro da Vila Kennedy. 

Oficina Teatral ocupa o Teatro Mario Mário Lago VK 
Foto: Uendell Vinícius/Voz das Comunidades 

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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