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Iniciativa cultural potencializa e educa artistas independentes no Complexo da Penha

Chamado Projeto A, criado por Rafael Queiroz, o movimento tem como objetivo orientar e preparar os rappers para o mercado da música
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Não foi no Brooklin e nem no Canão de SP, mas no Complexo da Penha do RJ que Rafael Queiroz, de 39 anos, iniciou o Projeto A para provar que o rap é compromisso, não é viagem. Em uma imersão de seis meses com quatro artistas independentes, a iniciativa tem como objetivo educar e preparar os rappers para o mundo da música. E, com isso, provar que ser independente está longe de ser amador. 

Rafael, que iniciou o projeto sem verba, faz tudo na base da parceria e negociação. Ele conta que, desde janeiro, quando iniciou a primeira turma, até o momento, foi produzido o equivalente a R $200 mil, sem patrocínio, apenas com as parcerias de estúdios e outros artistas que somam nesse corre. O Projeto A, além de ensinar os artistas a não se deixarem enganar por contratos abusivos, instruindo-os a respeito de questões legais, entre outros saberes necessários para sobreviver na indústria musical, coloca teoria em prática no que diz respeito à produção musical. “Isso aqui é uma ponte para a galera independente. Vai evitar um monte de arranhão!”, comenta ele, sobre o aprendizado passado aos artistas durante os seis meses. 

“A gente ensina o artista a trabalhar 6 meses à frente, ou seja, ao sair daqui em julho, essa pessoa vai ter estratégia de lançamento até dezembro. Nós pegamos teorias avançadas, jogamos para a prática e funciona”, explica Rafael Queiroz. Ele, que ressalta que tudo é feito fora da lógica do capital, diz que o Projeto A “não é um projeto social, é um assalto”. Já dizia o Planet Hemp em “Contexto”. 

Da Merê, Pérola Kenia, Rafael Braço e Trem Bart são os quatro nomes dessa “leva” de artistas que termina em julho. Durante o Projeto A, estes artistas têm que mostrar comprometimento e presença em todos os âmbitos da imersão em que eles saem com dois produtos finalizados: um Pocket Show, que será produzido e distribuído nos streamings de áudio, e um álbum que, além de todas as músicas gravadas e masterizadas no projeto, terão a oportunidade de gravar um clipe para o Youtube. Sem contar que, toda terça-feira, rola um ensaio aberto (sim, para qualquer artista que quiser chegar) com o DJ Swag no comando das controladoras, onde o mic fica liberado para apresentações. Rafael e outros profissionais ficam na responsa de dar uns toques para a melhoria de cada um. 

Da Merê tem só 19 anos e já soma 7 anos de caminhada no rap. Cria da Merendiba, no Complexo da Penha, ele rima em beats de trap e drill e fala sobre como o Projeto A está o ajudando a seguir. “O projeto te dá uma base, um aprendizado. Você vê que não tá sozinho. Mas, ao mesmo tempo, recebemos suporte para saber como seguir sozinho”, contou ele. Ao ser perguntado sobre a experiência mais diferenciada que viveu dentro do projeto, Da Merê suspeita que vai ser na hora de fazer o seu primeiro clipe da vida. “Ainda vou sentir a experiência de passar pelo processo criativo e acho que vai ser bem maneiro”, diz.

Da Merê tem 7 anos de caminhada no rap com apenas 19 anos
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Pérola Kenia, de 28 anos, completou 12 anos de música em 2022. Ela, que também trabalha como trancista, conta como está sendo importante ser uma das artistas do projeto. “Não só eu, como vários outros artistas independentes acabamos nos perdendo no meio do caminho por falta de conhecimento”, desabafa. “Além de produzir nossas músicas, temos os workshops que dão uma visão além do artístico, mas também um suporte pra você saber se virar sozinho. Com o conhecimento necessário para não ter falhas ou ser passado para trás em contratos, por exemplo. Já saímos sabendo negociar, ler contratos, fazer os registros das músicas, etc”, pontua Pérola. 

Pérola Kenia completou 12 anos de música em 2022
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Confira todos que fazem o Projeto A acontecer

Os profissionais:

Os parceiros:

Os produtores:

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PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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