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Homens, negros e de favela são os principais alvos nas abordagens policiais, diz pesquisa

A segunda edição do relatório “Elemento Suspeito”, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, aponta que 63% dos enquadros são em pessoas afrodescendentes
Foto: Bruno Itan
Foto: Bruno Itan

Apelidada carinhosamente de “cidade maravilhosa”, a capital do Rio de Janeiro não transmite essa sensação positiva para boa parte da população negra que reside no município quando o assunto é relacionado à segurança pública. Pois, como aponta a segunda edição da pesquisa Elemento Suspeito, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, a cor da pele é determinante na escolha do alvo que passará por um dos procedimentos mais invasivos e constrangedores nas ações dos agentes policiais: a abordagem. 

De acordo com os dados do relatório, que ouviu de 3.500 mil cidadãos no Rio de Janeiro, 63% que já sofreram com o enquadro de agentes de segurança pública são negras, mesmo com a parcela de afrodescendentes na cidade sendo menos do que a metade, mais precisamente 48%. Além do recorte racial nessa pesquisa de interesse público, quando o foco é direcionado para a questão de gênero e localidade, os números revelam que 75% dos alvos policiais para esse tipo de método são homens e, dentro desse indicador, 35% são moradores de favelas. 

Foto: Reprodução/Internet
Foto: Reprodução/Internet

“A pé ou não, eu já fui abordado diversas vezes. Principalmente, em blitz (ação de fiscalização preventiva dos agentes policiais no trânsito). Eles costumam nos julgar pelo jeito de se vestir, de falar e até andar. A sensação que tenho é que sou um criminoso procurado por alguma coisa que tenha feito de errado”, expõe. 

Ainda sobre as características que o tornam um indivíduo suspeito, Andrei questiona se existe um padrão de pessoa inocente. Em forma de desabafo, o morador indaga. “Para não sermos abordados pela polícia na rua, temos que andar de farda (uniforme dos agentes de segurança pública do estado) por aí?”. 

O levantamento da pesquisa Elemento Suspeito, que recebe o subtítulo de “Negro Trauma: Racismo e Abordagem Policial no Rio de Janeiro”, também avalia os danos psicológicos gerado nas pessoas que sofrem com essa postura preconceituosa dos agentes do Estado. De acordo com as informações obtidas nas entrevistas, quando as pessoas que mais estão na mira desse método pensam em polícia, as sensações que acompanham são totalmente opostas do público que não é abordado. Entre as palavras mais geradas a partir deste questionamento, estão: violência, medo, corrupção, raiva, ranço, operação, armas, segurança, trauma, cisma, tremor, desencanto, insegurança, proteção, abuso de poder, autoridade, repressão, morte e angústia. 

Dentro das 19 sentenças ouvidas, apenas duas podem ser classificadas como positivas (segurança e proteção). Em contrapartida, 14 se encaixam no viés negativo (violência, medo, corrupção, raiva, ranço, trauma, cisma, tremor, desencanto, insegurança, repressão, abuso de poder, morte e angústia). E, de forma neutra, apenas três palavras (operação, armas e autoridade). 

Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Com o apoio destes dados emitidos na segunda edição deste relatório, a equipe de reportagem do Voz das Comunidades entrou em contato com a Secretaria de Estado de Polícia Militar para entender se há uma estratégia diferente de tratamento de acordo com a raça, localidade e gênero dos cidadãos brasileiros, que, segundo a Constituição Brasileira de 1988, todos possuem o direito de integridade física e moral.  

Em nota, a instituição afirmou que as ações e operações são baseadas em protocolos rígidos de treinamentos e orientações. Além disso, compartilhou que a maioria do contingente policial é formado por agentes de renda baixa e que, hoje, a maioria dos PM são negros. 

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PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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