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Doceiro relíquia do Alemão vende guloseimas na comunidade há 28 anos

Conheça a história de Eronildes Felix das Neves, o Baixinho do Doce
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

Quem mora ou transita pelo Complexo do Alemão certamente já viu um senhor de estatura baixa, quase sempre vestindo um jaleco branco e chapéu, empurrando uma carroça azul cheia de doces. No registro de identificação este homem é Eronildes Felix das Neves, mas, popularmente, é conhecido na comunidade como Baixinho e considerado uma relíquia por ser um dos doceiros mais antigos da região. Pois, há 28 anos está nas ruas vendendo guloseimas que ajudam no sustento da família. 

O que muitos não sabem é que Baixinho tem 75 anos e disposição de sobra. Aprendeu as receitas dos quitutes vendo um colega cozinhar e desde então produz em casa com auxílio da esposa. Mas a luta de Eronildes se iniciou aos 8 anos de idade, ajudando seu tio a fazer sapatos. Depois ocupou cargos em fábricas de roupas, bebidas e mercados, realizando trabalhos braçais. Para o doceiro, a função não é problema. “Já fui até coveiro, nunca tive vergonha de nada que fiz”, afirma.

Faça chuva ou faça sol, ninguém consegue parar o Baixinho. Apesar da idade, ficar em casa descansando não está nos seus planos. Devido ao peso da carroça, já não sobe até o teleférico como antes. Mas se faz presente na parte baixa da Nova Brasília das 16h às 20h. “Eu gosto de andar, não gosto de ficar parado. Não tô conseguindo andar muito, mas não dá para ficar em casa e nem posso. Todo mundo me conhece, eu rodo tudo. Se eu fico um dia sem ir, o pessoal já pergunta”, conta.

Baixinho é um dos vendedores de doce mais conhecidos do Alemão
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

Ao lado de um grande homem, há uma grande mulher

Eronildes nasceu na Paraíba e veio para o Rio ainda jovem junto com sua esposa, Maria da Luz Soares Felix, com quem é casado há 50 anos. Dona Maria, 63 anos, ajuda o marido na preparação dos doces. O casal acorda bem cedo para fazer bolo de aipim e de chocolate, cocada, cuscuz, tortas de banana e abacaxi.

Braço direito de Eronildes nos negócios, Maria da Luz diz que o esposo sempre priorizou o trabalho e admira sua dedicação. “A gente se casou na igreja e eu só fui encontrar com ele 15 dias depois da cerimônia porque ele estava trabalhando. Ele tem mais ciúme dessa carroça que de mim [risos]. Mas eu me orgulho muito, é um exemplo para todos”, relata Maria. 

A casa de Eronildes e Maria está sempre cheia de gente. E, se falta espaço, sobra amor para receber os cinco filhos, 13 netos e dois bisnetos. A filha mais velha, Patrícia Neves, de 45 anos, declara que o sentimento pelo pai é de gratidão, pois todo o esforço de Eronildes ajudou muito em seu crescimento. “Por mais que tenhamos passado dificuldades, ele sempre correu atrás e é um exemplo porque tem 75 anos e ainda está na luta dele. É uma história que tem que virar lenda. Ele é um guerreiro! Eu sou muito agradecida”.

Maria da Luz ajuda o marido Eronildes a preparar os doces Foto:
Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

Amor pelo Complexo do Alemão

Os grandes momentos de Baixinho foram vivenciados no Alemão e ele garante que não vai embora por amor ao Complexo. “Aqui é muito bom! Eu gosto muito! Já perguntaram se eu queria vender o apartamento e eu recusei. Não quero sair daqui!”.

Morador do Condomínio Residencial Jardim das Acácias há 10 anos, para Eronildes as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) beneficiaram boa parte dos moradores, assim como ele. “O teleférico foi algo muito bom porque era uma luta para descer lá do alto das Palmeiras. Era um sofrimento. O transporte ajudou muitos moradores. Agora aqui é bom também porque é tudo perto. Adoro os prédios”.

O doceiro aprendeu a fazer os quitutes olhando um colega cozinhar
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

Para completar a felicidade de um morador apaixonado pela favela, o sonho de Baixinho é montar uma barraquinha em algum lugar do Complexo do Alemão, onde possa vender seus doces.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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