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De costureira a eterna porta-bandeira, Maria Helena deixa legado na história do carnaval carioca

Mineira, mas radicada no Rio desde os 15 anos, Maria Helena faleceu aos 76 anos no último domingo (20); comunidade que a abraçou relembra sua trajetória
Foto: Imperatriz Leopoldinense/Divulgação
Foto: Imperatriz Leopoldinense/Divulgação

Para quem acompanha e vive o tradicional carnaval do Rio de Janeiro, as últimas 48 horas têm sido em clima de despedida e homenagens a uma personagem que foi fundamental na popularização da cultura carnavalesca nas comunidades cariocas: Maria Helena. Conhecida como a eterna porta-bandeira da Imperatriz Leopoldinense, Maria Helena faleceu no último domingo (20), aos 76 anos. A sambista, que morava na comunidade da Grota, no Complexo do Alemão, estava internada no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, com complicações causadas por diabetes.

O último ano como o principal casal de mestre-sala e porta-bandeira na Imperatriz foi em 2005
Foto: Reprodução/Internet

Natural de São João do Nepomuceno, em Minas Gerais, Maria Helena chegou ao Rio de Janeiro ainda na adolescência, mais precisamente aos 15 anos de idade. Em busca de uma qualidade de vida melhor, ela trabalhou como costureira e doméstica antes de explorar o seu talento artístico e competência para conduzir o pavilhão dentro da quadra de samba.

Após conhecer o mestre-sala Bagdá, da tradicional escola da Portela, ela inicia sua trajetória nos desfiles. De lá para cá, tornou-se uma das personalidades mais do que históricas na trajetória da Imperatriz Leopoldinense, localizada no bairro Ramos, no Complexo do Alemão.

Ao lado do seu filho Chiquinho, que atua de mestre-sala, formaram uma das duplas mais bem-sucedidas e bem-vindas no meio carnavalesco, ajudando a Imperatriz nos desfiles onde conquistaram muitos campeonatos. Com a maestria que só os dois possuem, Maria e Chiquinho estiveram presentes, pela última vez, na alegoria de 2015 onde vestiram as mesmas fantasias com as quais se consagraram campeões em 2000.

Em seu perfil oficial na rede social do Twitter, a escola Imperatriz Leopoldinense compartilhou a importância de Maria, que também é conhecida como a “Cinderela do Subúrbio”. “Com seu filho, Chiquinho, a Cinderela do subúrbio formou um dos pares mais emblemáticos da folia, participando dos campeonatos de 1989, 1994, 1995, 1999, 2000 e 2001”, destaca o tweet.

Para Marquinhos Balão, presidente da Associação dos Moradores da Grota, a eterna porta-bandeira construiu um legado inestimável no carnaval carioca e na representatividade do Complexo do Alemão. Segundo ele, todos os moradores acompanhavam o desfile com a certeza que a dupla (Maria e Chiquinho) dariam um show na avenida.

“A Maria Helena foi uma grande sambista do carnaval carioca e, principalmente, para a nossa comunidade do Complexo do Alemão. É uma grande perda, sem dúvidas! Possuía um legado fora de série, com grandes campeonatos pela Imperatriz Leopoldinense, com diversas notas dez. A gente ia para a avenida sabendo que a nota dez de Maria Helena e Chiquinho (o seu filho que atuava de mestre-sala) era certa. Então, a comunidade do Complexo do Alemão está muito triste com a perda da nossa eterna porta-bandeira”, comenta.

“Uma referência de vida e compaixão”, afirma Yasmin Alves, de 25 anos, enquanto comenta a influência que o convívio frequente com Maria Helena trouxe em sua rotina. Ela era uma antiga aluna da eterna porta-bandeira, que sonhava em seguir os seus passos. Atualmente, a jovem trabalha com a área de nutrição e conta que há três semanas desceu de mão dadas as escadas com a sambista. 

Foto: VIlma Ribeiro/Voz das Comunidades
Yasmin Alves, de 25 anos, foi uma antiga aluna da eterna porta-bandeira.
Foto: VIlma Ribeiro/Voz das Comunidades

Apreciador de um bom carnaval e ex-cinegrafista da Globo, Marco Dias, de 45 anos, conta que ela sempre teve uma grande admiração na comunidade. Por onde passava, sempre tinha o orgulho de dizer que era do Complexo do Alemão. Para ele, a oportunidade de ter ela na vizinhança significava muito. “Ela foi e ainda é uma pessoa de muita importância para todos. Você ligava a TV e assistia ela desfilando, depois esperava a nota 10 de sempre, que graças a deus sempre a acompanhou”, destaca. 

Antes da partida da grande personalidade do samba do Rio de Janeiro, a escola Unidos de Manguinhos planejava homenagear, em seu samba enredo, a trajetória da Cinderela do Subúrbio. A iniciativa demonstra a potência que os passos carnavalescos mais acompanhados pela televisão possuíam. 

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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