Sair da terra natal em busca de oportunidades em cidades do Sudeste é um movimento que transporta histórias, culturas e sabores. Apesar da migração ser referenciada na década de 60, famílias continuam se despedindo de seus lugares de origem para tentar uma vida de oportunidades em grandes capitais. Com o baiano Marcos Paulo Sant’ana, de 40 anos, não foi diferente. Há 19 anos, ele mora com a família no Rio de Janeiro e cultiva as tradições de sua terrinha através da culinária nordestina.
Localizado na Grota, o restaurante Cantinho do Baiano foi inaugurado em abril deste ano e tem gengibre e dendê como toque especial em seus pratos. Entre moquecas, baião de dois e carnes de sol, o estabelecimento traz os aromas e temperos da Bahia para o Alemão.
De acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Rio de Janeiro foi o segundo estado que mais recebeu migrantes nordestinos ao longo dos anos. Baiano veio de Salvador com sua esposa Solange Nascimento e o filho mais velho, que na época tinha apenas 1 ano de idade. Por aqui, a família aumentou com a chegada de mais dois filhos, que hoje têm 15 e 10 anos.
A conexão com as origens não se perde com o tempo. Apesar de estar no Rio de Janeiro há quase 20 anos, Baiano ainda sente saudades de sua terra. Na época em que trabalhava como comerciante, ele sempre visitava a família e curtia festejos, como carnaval em Salvador. Agora, com a recente inauguração do restaurante, ainda não se tem uma previsão de ida.
“Sempre que posso eu vou lá pegar um pouco de axé e botar dendê no sangue. O Rio de Janeiro e Bahia deviam ser mais próximos. Tem muito carioca que é baiano. Tem uma sintonia e uma energia boa que não sei explicar. Dá saudade! Ainda mais nessa época de festa junina, que lá é muito gostoso. É praticamente um mês de festa, várias atrações e todas de graça”, conta Baiano.
De todo modo, o fluxo entre Rio de Janeiro e Bahia segue para manutenção do restaurante. O espaço conta com panelas de barro, farinhas e azeites trazidos diretamente de Salvador. Além da decoração do espaço, que conta com fotos de pontos turísticos da capital baiana e cortinas estampadas com pulseiras do Senhor do Bonfim, que também vieram de lá. Para Baiano, essa é uma forma de saborear o tempero e conhecer um pouco da Bahia.
A culinária nordestina sempre esteve presente no cotidiano da família. Antes do restaurante, Solange fazia pratos especiais para amigos do Rio de Janeiro. A moqueca é a comida que mais traz lembranças do Nordeste. A dedicação na cozinha é uma herança de sua avó, que sustentava a casa com trabalho de marisqueira.
“Por isso que gosto muito de fazer moqueca, lembro muito dela. A gente ia para praia às 6 horas da manhã, quando a maré estava baixa, e catava aqueles mariscos e depois ensacava. É um trabalho muito bonito e todo artesanal. Igual ao azeite. Tem muita gente que vê o azeite chegando, mas não imagina como é feito. São várias comunidades que colhe aquele dendezinho e vai no pilão. Aí vai amassando até encher baldes e baldes”, explica Solange.
A saudade e o pertencimento a pela terra natal é tão real quanto o carinho pelo território em que foram acolhidos. A busca por oportunidades os mantém no Rio de Janeiro. Mas, a Bahia segue no sangue e no Cantinho.
Foto: Josiane Santana / Voz das Comunidades
“Eu não tenho vontade de morar lá pelas condições que são oferecidas. Aqui eu tenho mais oportunidades, lá falta isso para as pessoas. O reconhecimento que eu tive aqui talvez eu não teria lá. Independente disso, a Bahia é minha raiz, meu povo e eu levo isso para minha vida”, relata Solange.