Uma competição reuniu mais de 200 talentos das comunidades no palco do Theatro Municipal do Rio, no Centro da cidade, na última terça-feira (11) e quarta-feira (12). Durante esses dias, aconteceu o Festival Carioca Ballet de Favela, promovido pela Associação Ballet Manguinhos. Com entrada gratuita, o evento destacou o potencial artístico das favelas e a dança como uma poderosa ferramenta de transformação social.
“O Festival vem com esse objetivo de mobilizar territórios de favelas que já atuam há anos com dança e música. Fizemos uma pesquisa em que 92% das favelas do Rio utilizam a dança, com várias modalidades, como danças urbanas, balé clássico, jazz, sapateado, como meio de transformação social. A gente tá feliz por todos que conseguiram apresentar seus trabalhos. Uma arte pertence a todos nós”, declara Carine Lopes, presidente do Ballet Manguinhos.
O processo de inscrição contou com 400 candidatos. As vagas foram destinadas para coletivos, instituições e projetos sociais. Além disso, escolas particulares, que tem alunos bolsistas com nível de excelência, puderam entrar e mostrando a diversidade de corpos – e também, das expressões artísticas presente no Ballet de Favela.
Victor Santos e Eduarda Macedo, participantes do evento, são alunos bolsistas 100% no Studio Gouveia Coaching, no centro da cidade, e já têm familiaridade com o palco do Theatro Municipal, onde se apresentaram, pois já estudaram no espaço. Victor Hugo Santos, bailarino de 16 anos, morador de Rocha Miranda, na Zona Norte do Rio, pratica jazz e sapateado há 9 anos. Há um ano, ele iniciou sua trajetória no ballet e, após a audição no início do ano passado, conquistou uma bolsa integral.

“O Ballet de Favela tem toda uma importância para todo mundo, que não pode ir para aquelas competições mais importantes, porque não tem dinheiro, então isso é muito maneiro. Meu sonho é mostrar para o mundo a minha dança e ajudar outras pessoas também, outros garotos, outras meninas, com a dança que querem seguir isso como carreira”, declara o bailarino Victor.
A participante Eduarda Macedo, tem 16 anos, moradora do Engenho da Rainha, Zona Norte do Rio, Iniciou sua trajetória no bale há 11 anos e atualmente estuda no Studio Gouveia. Em suas apresentações, ela trouxe o Solo de Contemporâneo da Carol Segurado, a variação de Vansatti.
“É muito bom ver isso, porque eu também vim do projeto do Complexo do Alemão. Então é gratificante ver isso tudo acontecendo e, principalmente aqui no Teatro Municipal, que é um teatro muito conhecido aqui dentro do Rio de Janeiro. Eu espero muito estar em Nova Iorque. Ano passado eu fui para ela no curso de férias e, enfim, esse ano eu vou de novo e eu espero estar na companhia dessa escola”, conta a bailarina Eduarda.
A Cia. Mundo Novo e o projeto Arte com Visão são iniciativas de profissionalização artística que atuam na Chatuba de Mesquita, na Baixada Fluminense, há 12 anos. O projeto oferece às crianças a chance de participar de um programa artístico, com aulas de balé, jazz contemporâneo, danças populares, danças urbanas, sapateado e teatro. A instituição levou 45 artistas para a competição e conquistou prêmios nas categorias primeira e segunda no primeiro dia do Festival.
Bruna Simãozinho, co-fundadora da Cia Mundo Novo, declara sobre a importância de ocupar os espaços e trazer dignidade, autonomia e reconhecimento para a arte periférica. “E hoje, para a gente, isso aqui é um legado histórico, porque é o que eu falei, independente de qualquer coisa, a gente está trazendo crianças, que está furando a bolha, que está ocupando esse espaço onde pessoas falaram que a gente não quer chegar, porque às vezes a gente não consegue vir mesmo nem para assistir um espetáculo, porque a gente não tem a verba para patrocinar um ônibus”, esclarece Bruna.
A bailarina Ketellyn Souza, de 9 anos e moradora da Chatuba de Mesquita, na Baixada Fluminense, estuda balé desde os 2 anos na Cia Mundo Novo. Esta é sua primeira vez no Theatro Municipal. Ela compartilha seus sonhos e a importância de participar do Festival.


“Sonho em ser uma bailarina profissional, artista profissional. Porque é uma chance, É uma primeira oportunidade pra eles verem e depois, posso estar aí de novo”, conta empolgada a artista Ketellyn.