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Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial, fala sobre ações e desafios à frente da pasta do governo federal

Nascida e criada no Complexo da Maré, Anielle fala que a favela será prioridade enquanto ministra
(Foto: Ricardo Stuckert)

Anielle Franco sempre foi um grande nome de imensa expressão dentro do cenário político do Rio de Janeiro. Mesmo após o assassinato da irmã Marielle Franco, Anielle permaneceu forte e ativa na articulação política, atuando nas mais diferentes esferas da sociedade, mas nunca deixando de lembrar e olhar de onde veio: Complexo da Maré. Enquanto estava à frente do Instituto Marielle Franco, levou a adiante a missão de “inspirar, conectar e potencializar mulheres negras, pessoas LGBTQIA+ e periféricas”, ajudando elas a se tornarem protagonistas de suas trajetórias e grandes representantes nos seus círculos sociais.

Em 2023, Anielle Franco encara um novo desafio. Convidada pelo atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atuará como ministra da Igualdade Racial no governo federal. Com o papel que desempenhará, afirma que irá lutar para atender às expectativas de pessoas pretas e pardas, lutando contra o preconceito e atuando firmemente na elaboração de ações que promovam a igualdade racial na sociedade. E isso tudo se reflete diretamente na representatividade que carrega consigo. “Toda vez que eu olho para uma mãe, uma menina, uma jovem negra, eu sempre penso o quanto que essa pessoa sonha em chegar a espaços. E esses espaços podem ser inclusive lugares que nos foram negados pra gente historicamente. Eu queria muito voltar ao Complexo da Maré assim que eu puder e fazer uma fala, uma posse simbólica, pra dizer nós existimos. Aqui é o nosso lugar de raiz, onde nós nascemos e crescemos, nos cuidamos, nos criamos e a gente podemos ser o que a gente quiser. Então acho que é um pouco disso que representa pra mim. Porque quando uma de nós vence, todas nós vencemos, sabe?.”

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva assina a posse Anielle Franco como Ministra da Igualdade Racial
(Foto: Ricardo Stuckert)

Sobre o novo cargo, Anielle relata que tudo vem do reconhecimento do seu trabalho. Se espelhando nos passos que traçou junto com Marielle, a também ativista se mostra preparada para estar à frente da pasta. “Eu nunca pensei em estar em um cargo público, muito menos em ser ministro de estado. Mas eu entendo também é o reconhecimento do meu trabalho, de tudo que tem sido feito e que foi feito desde 2018 pra cá. Desde muito nova aprendi a lutar e galgar novos espaços, sempre. Então era aquele tipo de menina que escrevia o que eu queria ser no ano seguinte. Eu era aquele tipo de menina que fazia o meu diário com os meus objetivos anuais. Então eu sempre sonhei muito alto e sempre almejei estar em lugares que eu pudesse ajudar a minha família, que eu pudesse ajudar outras pessoas, fazer com que outras pessoas também subissem junto comigo.”

Sobre a composição dos ministérios, vê como uma grande mudança a presença de mulheres nas pastas. A ministra já vê a diferença acontecendo, mas torce para que mais mulheres possam ocupar estes espaços, abordando a representatividade e tendo um olhar mais atento e expressivo para áreas mais específicas da sociedade. “Os ministérios passam por um avanço, por uma melhoria. É muito importante a nossa presença, de mulheres, à frente de pastas importantes. É um marco sim. Mas também sabemos que temos que batalhar por mais, né? Quem sabe um dia teremos cinquenta por cento de mulheres em pastas de ministeriais. Em lugares importantes. Termos mulheres presidentes à frente de grandes instituições brasileiras. Isso é muito bom, é muito marcante e impactante. Se estamos em um caminho que a gente vamos conseguir aumentar essa paridade, mesmo que não seja agora, eu acho que temos muitos desafios. Que as pessoas nos escutem, nos acolham e que façam políticas públicas… Que nos tratem como um ministério importante ou ministério de uma pauta que é de suma importância para o país inteiro.”

Presidente Lula junto com ministras e ministros
(Foto: Ricardo Stuckert)

Sobre as expectativas de trabalho para o Ministério da Igualdade Racial, Anielle já adianta que está trabalhando em ações prioritárias para os primeiros 100 dias de governo. “Eu já te garanto que dentre essas ações (que estão sendo planejadas) passam principalmente pelo genocídio da população preta, passa pelo fortalencimento de leis que permitam e que garantam mais acesso das pessoas ao ensino superior. Passa pelo fortalecimento de leis que já existem dentro do âmbito do ensino e saúde da população negra. Passa por a gente garantir que essas pessoas tenham a dignidade de volta estabelecida. Então, é comida no prato, emprego, condições de moradia… São ações que são prioritárias.”

A nova ministra afirma que já está fazendo reuniões com outros ministérios e planeja mudanças também em outras áreas, como cultura e esporte. Por fim, ela encerra. “A favela tem prioridade no meu coração e vocês sabem disso.” A posse da ministra ocorrerá na tarde desta quarta-feira (11), às 17h.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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