ADPF das Favelas: Estado planeja ocupar grandes territórios no Rio

Entenda como a medida vai funcionar e tire suas principais dúvidas
Foto: Renato Moura / Voz das Comunidades

Um mês após ser aprovada, a ‘ADPF das Favelas’ trouxe diversas medidas envolvendo órgãos de segurança pública, a ampliação da atuação da Polícia Federal em favelas e ainda a exigência do Estado na elaboração de um plano de reocupação territorial, mas há poucos efeitos práticos realmente acontecendo.

De acordo com o Governo Estadual, já foi iniciada o planejamento para a retomada de diversas regiões anteriormente abandonadas pelo Estado. Confira o que há de novo na decisão da ADPF das Favelas.

Decisão ainda não foi publicada pelo STF

Sem a publicação alguns avanços e trâmites burocráticos são muito dificultosos. O secretário de Segurança Pública do Rio, Victor Cesar Carvalho dos Santos, adiantou que já há conversas sobre os critérios que serão adotados na reocupação dos territórios, que é um dos pontos principais da decisão dos ministros na ADPF. Mas ele chama atenção para o fato de que não há capacidade técnica e nem operacional para a ocupação de, simultaneamente, mais de 800 favelas do estado. De acordo com ele, as localidades serão avaliadas segundo graus de dificuldade, como criticidade, tamanho e acesso. “Se os governos federal, estadual e municipal tiverem fôlego para isso, começaria pelos grandes complexos. Assim, vamos evitar a percepção de favorecimento. Se não der para todos, que se escolha um complexo de maior desafio. Porque, dando certo nos locais de maior complexidade, é natural que funcione nos outros”, explica o secretário.

Dúvidas sobre como vai funcionar

Entre as decisões da Corte está a necessidade das polícias Civil e Militar usarem câmeras corporais. A PM já adota o equipamento e, no caso dos agentes civis, o entende-se que sejam utilizadas nas atividades de patrulhamento e policiamento ostensivo, além de operações planejadas.

Foto: Eliane Carvalho / Divulgação Governo do Rio
Foto: Eliane Carvalho / Divulgação Governo do Rio

O secretário Victor Santos diz que o estado estuda a compra de câmeras para as viaturas, o que também foi determinado pelo STF. Mas ainda há dúvidas sobre o uso dos gravadores pelos agentes da Polícia Civil. “A decisão menciona o uso da câmera corporal, exceto quando se trata de trabalho de investigação. Mas a própria natureza da Polícia Civil é investigativa. Então, ainda precisamos entender melhor como aplicar isso”, conta o secretário.

O plano aprovado pelo Supremo também determinou 180 dias para que o governo crie um programa de assistência à saúde mental dos profissionais de segurança pública. O prazo ainda não está contando, mas Santos disse que foram iniciadas conversas para definir a estrutura do programa. De acordo o STF, o atendimento psicossocial deverá ser obrigatório sempre que houver envolvimento em um incidente crítico.

O que até agora foi decidido em Brasília

  • Investigação de crimes interestaduais pela Polícia Federal: o STF determinou que a PF abra inquérito para apurar indícios concretos de crimes com repercussão interestadual e internacional que exijam repressão uniforme e envolvam violações de direitos humanos decorrentes da ocupação de comunidades.
  • Retorno dos helicópteros: a Corte flexibilizou a ordem anterior. Não há mais restrição do uso da aeronave.
  • Autópsia em mortes durante operações policiais: os laudos necessários deverão ser elaborados no prazo máximo de dez dias.
  • Fim de restrições a escolas e hospitais: em situação de “extrema necessidade” será permitido o ingresso das forças policiais “caso se verifique o uso dos estabelecimentos para prática de atividades ilícitas”.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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