Juma Olorín sempre sonhou muito, mas o canto nunca esteve no meio deles. Cantora e compositora, a jovem de apenas 18 anos se divide entre os planos de uma vida comum e a de artista. Com um sorriso encantador e uma voz de arrepiar, ela conta sobre seus anseios, sonhos e conquistas.
A música sempre esteve presente em sua vida, mas “meu sonho não é ser cantora, nunca fui assim”, conta Juma. Mesmo assim, ela sempre fez questão de se manter próxima ao ambiente musical “eu sempre enchi o saco do meu pai para ter um instrumento, sempre ficava cantando direto dentro de casa”, diz. A cantora fez aulas de violão por sete anos e sua primeira apresentação cantando foi em um show de talentos da escola.
Por dois anos consecutivos, a vergonha a atrapalhou em suas participações no evento escolar. No primeiro ano, Juma ficou com vergonha de tocar violão e cantar, então recebeu ajuda e um amigo ficou responsável pelo instrumento, enquanto ela se encarregava de mostrar a voz. Neste ano ela ganhou o concurso. No ano seguinte, em sua segunda aparição foi sendo responsável pelos dois papéis, ficou tão nervosa que chegou a errar a música, mesmo assim ficou em segundo lugar.
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das ComunidadesFoto: Vilma Ribeiro / Voz das ComunidadesFoto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades
Ela começou a se acostumar com apresentações com ajuda do pai. “Depois disso (show de talentos), a gente ia para os lugares (…) e meu pai sempre chegava no cantor e pedia: ‘deixa ela dar uma palinha’. Aí eu comecei a me acostumar mais com isso, porque ia lá pra frente, tocava uma musiquinha, duas, três e sentava cheia de vergonha depois, mas comecei a me acostumar com essa vida”, relata.
Para Juma Olorín, a música tem muitos significados, é acolhimento e forma de expressão. “Acabou virando minha válvula de escape também. Sempre quando estava muito sobrecarregada, seja de felicidade, raiva, tristeza ou algo do tipo, (…) eu sentava, pegava meu violão, ficava tocando quietinha”, fala.
“A música continua sendo muito, muito da minha felicidade, definitivamente. Eu acho que também não só de fazer, mas disputar também”
Juma Olorín
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das ComunidadesFoto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades
Com o passar dos anos, novas habilidades foram florescendo. “Eu também comecei a fazer minhas composições que até então eram muito pessoais, muito quietinhas da minha parte, as outras pessoas que escutavam as minhas músicas, eram dois, três amigos meus e, geralmente, a pessoa para quem eu direcionava música”, relata. Segundo a cantora, ela iniciou compondo músicas para pessoas próximas, como familiares e amigos.
“Calor” foi a primeira música que Juma gravou e lançou nas plataformas digitais. Ela detalhou como foi sua experiência em um estúdio. “O produtor daqui fez mágica. Minha música era voz e violão e ele colocou um violino de fundo, umas pausas… ele fez com a música exatamente o que esperava dela (…) fiquei muito feliz com isso”, fala.
Foi com a primeira música que começou a ser reconhecida na região. Em 2024, ela esteve presente em um podcast para falar sobre seu trabalho e foi convidada ao vivo para um projeto, o “Poesia Sesh 2”. Apesar do projeto ter um estilo musical diferente ao que Juma está acostumada, não enfrentou dificuldades para se adequar. “Eu montei letra em uns 10, 15 minutos. Fui lá, gravei o áudio para eles de como ficaria a minha parte. Ai ele (produtor) disse: ‘pô, não mexe em nada, vai ficar assim'”, relembra.
A música fala da forma que eu aprendi a falar sobre amor
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades
O nome artístico diz sobre quem é Juma Olorín, é uma junção do seu nome de nascença: Julia Moura Abreu, com Olorín, uma palavra do vocabulário Iorubá que significa “cantor/músico”. A cantora carrega no nome um dos seus propósitos “Eu sou muito ligada com essa questão de ancestralidade, comunidades pretas e tudo mais. (…) Se eu conseguir alavancar essa carreira, eu pretendo muito direcionar para os meus”, diz.
“Acho que a minha vida se mantém na base do amor mesmo. Pelos meus, pelo que eu faço, pelo que eu gosto de fazer, pelo que eu sonho”.
Juma Olorín
Além de acolhimento, a música é uma forma de conexão com os seus. “Minha família sempre foi muito conectada com o samba, então acho que tem muito de não só de conforto, não só de válvula de escape, não só de uma relação de amor também, né? Mas de muita conexão com a ancestralidade”, afirma. Para Juma a música também ensina.
“A música também fala muito da forma que eu aprendi a falar sobre amor, eu aprendi escutando, não só escutando. O amor que eu sempre aprendi dentro de casa, mas também do amor que eu sempre escutei. Eu sempre fui muito conectada a escutar. Quando eu não entendia alguma coisa que eu estava sentindo, eu geralmente buscava músicas que me conectassem com aquilo.”
Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.