Tanques de guerra na favela, helicópteros-águia sobrevoando as casas e soldados armados nos becos. Esse era o cenário do Complexo do Alemão em 28 de novembro de 2010. Há 14 anos, moradores foram acordados pela violência armada na “tentativa de pacificação” que marcou a história do Complexo do Alemão.
Na época, a corretora de imóveis Alessandra Souza, de 49 anos, morava na Grota com seus dois filhos: Hemily, que na época tinha 11 anos; e Alex Davy, que tinha 6. Ela lembra que ir trabalhar e deixar as crianças na casa de parentes foi um desafio naquela manhã por conta do medo de ficar no fogo cruzado. Mas a necessidade de sair da favela para se proteger era maior.
Foi o aumento da violência que fez Alessandra sair do CPX. “Foi muito marcante. Uma coisa que não dá para esquecer. A percepção é que hoje é pior que antigamente. Foi uma maquiagem”, conta.
Promessas e realidade
A tentativa de “pacificação” do Complexo do Alemão veio acompanhada de promessas. Da inauguração dos teleféricos até a chegada de bancos na favela, a publicidade era o desenvolvimento social e econômico que viria com a atuação policial em uma favela.
Hemily, hoje com 25 anos, tinha esperanças de que viveria em um lugar melhor, como acreditaram alguns moradores. No entanto, não demorou muito para ela perceber que suas expectativas seriam frustradas.
“Eu fiquei deslumbrada! Falavam que a nossa vida mudaria e que iríamos conquistar as coisas. Na época, eu estudava em Santa Teresa e falava com a minha mãe: ’Nossa, agora vou poder trazer meus amigos em casa para fazer trabalho’. Mas durou pouco tempo. Foi uma grande ilusão”, relembra.
Insegurança Pública
A ocupação militar no CPX é um exemplo simbólico de como a violência armada é imposta e entendida como política pública em territórios marginalizados. Segundo a Rede de Observatórios da Segurança, 1.330 pessoas foram mortas pela polícia no Rio de Janeiro em 2022.
Para o co-fundador do Instituto Raízes em Movimento, David Amen, um projeto de segurança pública que visa apenas a violência armada é um projeto falido.
“Não era isso que a gente esperava e desejava do Estado. A invasão que a gente queria não era de força armada, do fuzil, da opressão. A gente queria uma invasão cultural, educacional e de emprego. É isso que a gente necessita. Existem pessoas pensando a favela com favela. Enquanto o Estado for cruel e violador, estaremos aqui lutando contra ele e propondo políticas públicas para o nosso território”, pontua David.