Depois de um longo dia fora, todo mundo quer poder chegar em casa e relaxar. Mas e quando o caminho de volta também é uma dificuldade? Para os moradores da Travessa Campos, localizada na Fazendinha, próxima a praça do Cruzeiro, a escada representa insegurança e falta de acessibilidade.
A situação é crítica. Há partes da subida que tem apenas uma rampa, sem corrimão para apoio; o trajeto também não tem iluminação pública; e ainda alguns degraus estão deteriorados e irregulares. O pedreiro, Antônio Brito, 70 anos, mora há mais de 4 décadas na localidade. Há dois anos ele precisou amputar parte da perna direita e, por isso, teve a mobilidade reduzida.
Ele e a esposa, dona Marinete Brito, precisam descer a escada todos os dias. Enquanto ele se apoia devagar nas muletas, ela dá apoio. Em sua casa, eles fizeram adaptações, até a porta da residência tem corrimão, mas é nos degraus e na rampa que o casal de idosos encontram mais dificuldades. Seu Antônio conta que um dia se desequilibrou e caiu para trás. “Aí, solto a muleta e me seguro no chão. A minha salvação é que eu ainda não caí descendo”, relembra.
Para o aposentado, e outros moradores, a falta de acessibilidade é a principal dificuldade. “Tendo a melhora do corrimão seria uma maravilha. Eu só vou até ali. De lá, não consigo mais, os degraus são curtos e quebrados”, comenta. O pedreiro mesmo adaptou sua casa para suas necessidades, mas não tem recursos para colocar barras na extensão da rua.
Ver a escada bem adaptada é o simples desejo de Seu Antônio para si e para outras pessoas que também precisam. Na mesma travessa, vivem também sua sogra de 92 anos, que tem dificuldade de locomoção; e uma senhora, Sandra Soares, de 66 anos, que vive acamada por ter sofrido 3 acidentes vasculares cerebrais (AVC).
A filha dela, Taina Silva, precisa descer a escadaria com a mãe no colo para poder levá-la ao médico. “Ou levando ela no colo, ou na cadeira, porque não tem como subir com ela na escada”, lamenta.
Uma dificuldade geral
Não é apenas na escadaria da rua de Seu Antônio que não há acessibilidade. A construção das favelas em morros e a construção independente de escadas pelos próprios moradores, por uma questão de necessidade e pela falta de infraestrutura nos territórios, é apontada no Plano de Ação do CPX como um ponto de melhoria.
O documento traz também soluções para as questões de falta de mobilidade e inclusão levando em conta a participação popular e a defesa dos direitos das pessoas com deficiência. Outro ponto destacado pelo documento é a falta de dados sobre pessoas com deficiência no Complexo do Alemão. “Só peço que eles olhem pela gente aqui”, finaliza Antônio.