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Com elogio de alunos e responsáveis, Entre Lugares Maré corre risco de acabar por falta de patrocínio

Projeto do Entre Lugares, oferece oportunidade de inclusão e acolhimento para jovens e adultos neurodivergentes e pessoas com deficiência (PCD)
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

As aulas do projeto Entre Lugares Maré, uma realização da Cia das Artes em CriAção, acontecem no museu da Maré, toda quarta-feira e sexta-feira, 15h30. Sandra, idealizadora do projeto, explica que sempre sentiu a necessidade de fazer ter um grupo verdadeiramente comprometido voltado a neurodivergentes e pessoas com deficiência (PCD), “sempre me incomodou muito ver as coisas só pra constar, só para cumprir”. Mesmo com a vontade de colocar em prática, a falta de recursos financeiros dificultava a ideia sair do papel, o programa Olhos d’água, do Ministério da Cultura, surge como uma oportunidade de colocar as ideias em prática e tornar o projeto viável.

Antônia Maria Pirangi, 44 anos, aluna do teatro, conta que sempre sentiu necessidade de espaços como esse “projeto do Entre Lugares Maré e Maré em CriAção precisam continuar para que outras pessoas atípicas tenham a mesma oportunidade de pertencer a esse lugar de arte e cultura”. A aluna complementa dizendo como tem sido sua experiência “já faço aula de teatro há cinco meses e as aulas me trouxeram mais autoestima, confiança para falar em público e principalmente tem me ajudado de maneira absurda a lidar com minha timidez que é bem latente ainda”. Para Pietra Mesquita, 10 anos, outra aluna do projeto, o teatro tem sido maravilhoso em todas as áreas de seu desenvolvimento — cognitiva, perceptiva e física. Com paralisia cerebral, Pietra vem mostrando avanços significativos desde que começou as aulas. “O desenvolvimento dela após o teatro é visível,” comenta sua mãe, Juliana Mesquita, orgulhosa do progresso da filha.

As aulas se estendem a uma rede de afeto e cuidado, “acredito muito nisso e essa amizade vai para além das aulas de teatro, com certeza” diz Antônia. Entre as mães, a experiência não é diferente, Juliana, mãe de Pietra, fala que acompanhar a filha nas aulas se tornou um momento de conforto “nós, mães atípicas precisamos ser acolhidas. Ali, em nossas rodas é um momento de rir, chorar sem ter que explicar… Fora a troca de experiência, poder sentar e falar de nossos medos e alegrias, alivia”.

Antônia acrescenta que o projeto também traz o sentimento de acolhimento, “o projeto de teatro trouxe para mim uma sensação maravilhosa de pertencer a algo, fazer parte de algo dentro da minha comunidade”. Sandra compartilha do mesmo sentimento: “no grupo Especiais da Maré vejo como uma cuida da outra, como se importam com os filhos de todas. Inclusive me acolhendo muito mais do que as minhas antigas (…) que se afastaram… As amigas que eu tenho hoje, são as mães dos amigos atípicos do Ariel (meu filho)”. Essa rede de apoio entre as mães se tornou tão forte que no mês de outubro ocorreu a segunda “Roda de acolhimento – maternidade atípica”.

O financiamento é o que viabiliza as aulas no momento, mas sem previsão de renovação da verba, o Entre Lugares Maré corre risco de acabar. Antônia conta que se as aulas chegassem ao fim afetaria muito os envolvidos “o impacto seria grande porque não é só às aulas de teatro, é poder participar de um projeto que inclui pessoas com deficiência dentro de um espaço na Maré, e isso é de suma importância para todos os alunos e essa equipe maravilhosa que criou esse lugar de pertencimento”. O ambiente permite que os participantes se sintam valorizados e pertencentes, fortalecendo a autoestima e dando visibilidade a eles.

Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

Entre Lugares Maré abrem festival de cena 

As aulas de teatro não apenas permitem que os alunos desenvolvam suas habilidades e expressem seus talentos, mas também oferecem uma oportunidade para que eles compartilhem o que aprenderam com a comunidade e o público. Em setembro, o grupo teve a chance de se apresentar pela primeira vez em uma cena pública, abrindo o Festival de Cena do Entre Lugares Maré. Foi um momento especial para os alunos e familiares, a estreia estreia simboliza tanto o avanço deles no projeto quanto o impacto positivo das aulas.

Foto: José Bismark / reprodução
Foto: José Bismark / reprodução
Foto: José Bismark / reprodução

Juliana relembra o momento em que viu a filha no palco: “Foi emocionante, eu estava muito ansiosa. Vê-la atuando de forma segura deixou meu coração aquecido.” Além disso, ela nota uma diferença evidente em Pietra desde que começou a participar das aulas de teatro, especialmente no que diz respeito à autoestima. “Estamos mais seguras, felizes em pertencer a um espaço tão bacana de escuta e cultura.”

A idealizadora conta que foi um momento desafiador para o grupo. Durante o processo de preparação para o festival foi percebido diversos desafios, “o Gegê, é um adulto cego, aí fizemos um caminho tátil pra ele no palco por exemplo…os movimentos pra quem usa cadeira de rodas também… e os alunos neurodivergentes ou com deficiência intelectual, precisam de mais tempo para dar conta de acompanhar”, relata Sandra. A turma ensaiou durante dois meses para esta apresentação, o resultado foi positivo.

Para participar do curso, os interessados podem comparecer ao Museu da Maré nos dias das aulas, às quartas e sextas-feiras, quando acontecem as aulas. 

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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