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‘Todo dia eu choro’; Morte de Thiago Menezes completa 1 ano

Thiago, de 13 anos, foi morto no dia 7 de agosto de 2023 durante uma ação da PM na Cidade de Deus. Após um ano, família ainda clama por justiça
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Um ano se passou desde a morte de Thiago Menezes. O menino foi morto durante uma ronda policial na favela da Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio de Janeiro no início de agosto de 2023. Os policiais envolvidos no caso estão respondendo em prisão e a dor pesa emocionalmente sobre a família e amigos de Thiago.

Tristeza e saudade emociona amigos

Dor, sofrimento, depressão, notas baixas na escola… E ainda assim, seguir com a vida… É dessa maneira que os amigos de Thiago Menezes encaram a tarefa de superar o cotidiano após a morte do menino. “Eu não aguento não. Todo dia eu choro. Eu sinto muito a falta dele. Ele era muito alegre e nós brincávamos todo dia juntos”, conta Karina Runge de 13 anos, prima e amiga da vítima.

A menina conta que desenvolveu transtornos para a sua vida e, para ela, o alívio da dor é algo inalcançável, mesmo após um ano da morte de Thiago. “Tudo piorou, mesmo depois desse tempo todo. Eu choro o tempo todo, estou lidando com depressão, dificuldade de estudar, minhas notas na escola caíram muito também. Tive que tomar calmantes para conseguir lidar com tudo isso”.

Karina Runge, de 13 anos, não conseguiu segurar a emoção ao lembrar do amigo morto durante operações policiais na Cidade de Deus.
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Thiago também tinha muitos amigos na escolhinha de futebol que frequentava, inclusive crianças mais novas que ele o admiravam muito. É o caso do Christian Santos, de 10 anos, que mesmo bem novo sente a falta do amigo. “Foi a primeira vez que fui a um enterro. Foi muito triste. Perdi um amigo. Sinto falta de brincar com ele e de encontrar com ele no futebol”, desabafou.

Psicóloga comenta que a perda de uma pessoa durante a infância é muito impactante

Hérika Cristina da Silva, psicóloga especialista em trauma infantil e mestre em saúde mental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ_, perder um amigo muito próximo por si só é um evento muito impactante na vida de uma criança e isso se agrava ainda mais em casos de perda de pessoas próximas de forma abrupta e violenta. “Tomar conhecimento da ocorrência de um evento traumático, violento ou acidental, com um familiar ou amigo próximo, é também considerado trauma passível de desenvolvimento de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), que é uma das consequências mais prevalentes em relação a saúde mental”.

Ela conta que TEPT é um transtorno extremamente debilitante. É caracterizado pelo desenvolvimento de sintomas intensos de revivescência do trauma, evitações, alterações negativas na cognição e no humor após a exposição a eventos traumáticos, como o caso de morte de um amigo próximo de forma violenta. “Pode haver pesadelos, que podem ser relacionados ao trauma ou de conteúdo não identificável, em casos de crianças. Reações dissociativas, em que a pessoa sente como se o evento estivesse acontecendo novamente, que, em casos de crianças, pode acontecer uma reencenação do evento em brincadeiras. Além disso, é comum que haja sofrimento psicológico intenso ou prolongado e sintomas físicos de ansiedade diante de sinais, internos ou externos, que possam lembrar o trauma. E tudo isso pode fazer com que a criança mude drasticamente seu comportamento, deixe de fazer muitas coisas que antes fazia, deixe de se envolver em atividades que podem ser rotineiras ou até mesmo prazerosas, podendo também atrapalhar em suas atividades escolares”, explica a psicóloga. Foi o caso da prima Karina.

Hérika explica que a depressão também é muito comum como consequência de casos como esse, além de outros transtornos mentais, como transtornos de ansiedade, mas que o apoio e suporte social é algo extremamente valioso e pode prevenir muitos desses adoecimentos que podem ser causados pelo trauma. “A presença de rede de apoio e afeto, se sentir cuidado, ter escuta, validação e um olhar empático e respeitoso ao seu sofrimento ajuda a aumentar as chances dessa criança conseguir lidar com o que aconteceu de forma saudável, sem desenvolver nenhum transtorno mental ou físico. Assim como também ajuda, evitar a exposição a novos eventos estressantes e prezar por um rotina saudável”, conta a psicóloga.


Relembre o caso

Thiago foi assassinado no dia 7 de agosto do ano passado. A família do adolescente afirma que ele foi morto quando andava de moto com um amigo, por volta de 0h40, em um dos becos da Cidade de Deus, quando foi alvejado na perna e no peito pelos PMs.

A versão da polícia é que agentes do Batalhão de Choque faziam uma ronda nas proximidades da comunidade quando foram atacados a tiro por dois homens em uma moto. A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), que investiga as circunstâncias do crime, registrou o homicídio como morte por intervenção de agentes do Estado. Imagens de câmera de segurança instaladas próximo ao local do assassinato foram analisadas e as armas dos policiais envolvidos na ocorrência foram apreendidas para perícia.

Naquele mesmo mês, o Ministério Público fez a reconstituição do crime e houve o afastamento dos policiais envolvidos, mas eles seguiram soltos até a prisão, no dia 7 de maio. Durante esse período, a família do jovem começou a investigar por conta própria e conseguiu imagens de câmeras de segurança, entregues à polícia e ao MP, que usou o material como prova na denúncia.

Foto: Reprodução

Entenda melhor:

Na tarde desta quarta-feira (7), amigos e familiares de Thiago Menezes realizaram uma passeata na Cidade de Deus. Em cartazes, eles pediram justiça pelo garoto. Confira fotos:

Reportagem
Vídeo: Will Santos | Produção: Alana Nascimento | Texto: Samantha Millan | Fotos: Selma Souza

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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