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Patrícia mostra todo o poder feminino ao abrir espaço para as mulheres numa função “tradicionalmente masculina” no Vidigal

Assim como a figura mitológica da Fênix, a pioneira no mototáxi do Vidigal sempre recomeça mais forte
Patrícia foi uma das primeiras a entender que a função de mototaxista também pode ser das mulheres. Foto: Igor Albuquerque/Voz das Comunidades
Patrícia foi uma das primeiras a entender que a função de mototaxista também pode ser das mulheres. Foto: Igor Albuquerque/Voz das Comunidades

Como o mito da Fênix, que representa a imortalidade, surgido no Egito antigo, milhares de anos antes de Cristo, quando sentia que ia morrer, montava um ninho com incenso e outras ervas aromáticas para ser incinerada pelos raios do Sol e de suas cinzas nascia uma nova ave. Patricia Brito Mendes também não se deixa abater pelos reveses da vida e sempre “ressurge das cinzas” quando precisa dar fim a um ciclo e recomeçar.

Essa vidigalense de 46 anos foi uma das primeiras a trabalhar como mototaxista no morro e a que mais tempo está em atividade na favela, depois de trabalhar em diversas outras funções. Ela já foi vendedora, gerente, segurança… Encontrou seu lugar, há 23 anos, nessa profissão que sempre foi predominantemente masculina. Essa atitude acabou por mostrar todo o empoderamento feminino e que a mulher pode estar no lugar que quiser.

“Eu não me acho uma heroína, mas me vejo como uma Fênix porque eu sempre ressurjo das cinzas. Para trabalhar no mototáxi é preciso ter muita fé, disposição e garra. Eu já sofri muito preconceito, mas também adquiri muito conhecimento e fiz muitas amizades. Muito me orgulha representar todas essas mulheres guerreiras”, explicou Patrícia.

Foto: Igor Albuquerque/Voz das Comunidades

Patrícia sempre gostou de trabalhar com o público e também acha muito positivo trabalhar na comunidade onde mora. Ela tem um filho que hoje tem 24 anos. Quando ela começou com o trabalho, subindo e descendo o morro com passageiros, tinha que deixar seu menino com alguém, para buscar o seu sustento. E, mesmo assim, não se deixou abater e conseguiu conquistar seu espaço.

“Meu começo no mototaxi foi muito difícil. Foi preconceituoso, foi abusivo, mas, mesmo assim, eu, Patrícia, criei o meu espaço e hoje as meninas que chegaram também tem um espaço. Não só para mim, hoje tem espaço para qualquer menina que quiser vir, somar e embelezar ainda mais o mototáxi”, disse a mototaxista. 

Essa profissão, que antes era ocupada somente por homens, começa a fazer a “cabeça” das mulheres em geral e aqui na favela também. Geralmente as pessoas se acham mais seguras em andar na garupa de mulheres por serem mais prudentes no trânsito. Além desse aspecto na segurança, ainda existem outras relações ligadas ao assédio e a violência. 

As mulheres que já preferiam se deslocar na garupa das motos, por correrem menos risco de sofrerem algum tipo de violência, por parte dos condutores dos veìculos, por estarem confinadas em um lugar de pouca visibilidade (interior de carros), agora podem se sentir ainda mais seguras estando na garupa de mulheres. Isso tudo somado a competência e a seriedade que tem feito esse segmento do mercado crescer e dado oportunidade para outras mulheres que queiram ser mototaxistas ou motogirl, como elas preferem ser chamadas. Atualmente no Vidigal já são três e a tendência é que sejam muitas mais no futuro.

“Antigamente era muito diferente. Hoje o mototaxi são flores. Eu já comi o ‘pão que o diabo amassou’. Muita gente não tem noção de como eram as coisas. Hoje as meninas que entrarem vão pegar um “mar de flores” no mototaxi. Tem muito passageiro e muita gente que prefere andar com mulher por se sentir mais seguro, principalmente as mulheres”, relembrou.

Foto: Igor Albuquerque/Voz das Comunidades

Descidas e Subidas

Patrícia sofreu um grave acidente de trabalho, por conta da faixa da reversível na Niemeyer. Nesse acidente quebrou os dois braços, fêmur, maxilar, rasgou as duas pernas, o tempo de recuperação foi em torno de dois anos e seis meses.

Por causa desse acidente, teve que ficar em casa, sem fazer nada, dependendo da família. Seu filho dependia dela. Isso aconteceu há 18 anos. Foi daí que ela teve que recomeçar do zero. Estava quase morta. Voltar a andar de moto foi outro recomeço. Precisou de tratamento psicológico para voltar a trabalhar. 

O começo de tudo ocorreu com a sua migração, com seis anos de idade, do Maranhão para o Rio somente com o pai, que veio fazer uma obra para sua avó. A mãe ficou na sua terra natal e só depois de 13 anos aqui o pai mandou buscar sua mãe. Iniciou o trabalho com 12 anos, numa grande rede de supermercados, depois foi trabalhar numa grande loja de eletrodomésticos, também numa grande loja de departamento e depois voltou a trabalhar no mercado.

Depois disso tudo se casou, passou por problemas de obesidade, que aflige muitas pessoas, e teve que encarar, consequentemente, a gordofobia. “Eu fui fazer uma entrevista, numa grande loja varejista de roupas, e depois de passar por todas as etapas do processo seletivo, a menina do RH disse que não caberia na roupa d vendedora. Foi aí que decidi tirar a minha habilitação e trabalhar de mototaxista.”

Patrícia é um exemplo de perseverança e acha que desistir não é uma possibilidade para as mulheres que sofrem todo tipo de preconceito e dificuldade na sua trajetória de vida.

Descanso da guerreira: Depois de um dia desgastante de trabalho, Patrícia só quer relaxar. Foto: Igor Albuquerque/Voz das Comunidades

“As mulheres não devem desistir nunca e devem focar no recomeçar, tudo é recomeçar. O negócio é levantar a cabeça e seguir em frente. É difícil, é muito difícil. Mas devemos acreditar sempre que o amanhã será melhor. O negócio é dar a volta por cima. Renascer como uma felix”, finalizou.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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