Texto: Amanda Botelho | Fotos: Selma Souza
Material produzido para o jornal Voz das Comunidades – Edição de Abril de 2023
A vista para o mar, que pode ser desfrutada de vários pontos do Vidigal, encanta os turistas. Mas o que impressiona é o paraíso no coração da comunidade: o Parque Ecológico Sitiê. Um espaço rico em fauna e flora, onde é possível não só ouvir o canto dos pássaros, colher frutas e legumes, mas também sentar na frente de um lago cheio de peixes e apreciar uma paisagem belíssima. O melhor de tudo, sem pagar nada.
Quem mora e cuida desse espaço é Maria Gorete da Silva, de 46 anos. Durante a pandemia, Gorete limpou o local que estava abandonado. A revitalização melhorou o ambiente, a comunidade e a vida de Gorete. “Na pandemia eu descobri um câncer de mama. Ficava em casa muito ociosa e resolvi começar a limpar. O parque precisava ser curado, eu também, e ambos nos curamos”, diz.
Natural do Rio Grande do Norte, Gorete chegou no Vidigal aos 17 anos. A comunidade se tornou sua casa e para ela é importante preservar o lugar que vive. Contudo, não romantiza os desafios diários na luta em prol da sustentabilidade no território. “Eu agradeço a comunidade do Vidigal por ter me recebido, por fazer daqui a minha casa. O que eu puder contribuir e melhorar a favor da nossa comunidade, eu farei. Estou aqui”, afirma.
Do outro lado da cidade, no Complexo do Alemão, a pernambucana Josefa Santos, de 68 anos, também chegou à comunidade aos 17 anos. A aposentada se empenha em ensinar aos vizinhos maneiras de colaborar com a sustentabilidade. Em prol do meio ambiente, dona Josefa vai de porta em porta na Pedra do Sapo para conscientizar os moradores da importância de separar o lixo. “Quero botar na cabeça do pessoal que resíduos não são para jogar na vala. Não é porque a gente mora na favela que tem que conviver com o lixo e descartar de forma errada. Temos que ter responsabilidade e mudar”, destaca Josefa.
E não para por aí. Dona Josefa transforma óleo usado em sabão de pia, trabalha com hortas, agroecologia e artesanato, além de dar oficinas dessas atividades na OSC Verdejar Socioambiental. Contudo, o que mais chama atenção é o biodigestor que a moradora tem na laje de casa, produzindo seu próprio gás de cozinha.
As favelas são diferentes, mas o pedido das mulheres que lutam pela melhoria do meio ambiente é o mesmo. Gorete e Josefa fazem um apelo aos moradores do Vidigal e Alemão para que não joguem lixo em lugares inapropriados que não tenham caçambas ou seja destinado ao descarte para coleta da Comlurb. Elas acreditam que com a colaboração de todos é possível ter uma favela limpa e sustentável.
Parque Ecológico Sitiê
O parque por muito tempo foi um lixão abandonado e Mauro Quintanilha, ex-marido de Gorete, resolveu mudar a realidade desse espaço. Em 2019, ele se mudou e o lugar ficou esquecido. Foi quando Gorete tomou a iniciativa de começar a cuidar do parque. Atualmente o Sitiê não recebe ajuda governamental para manutenção. Gorete conta com apoio voluntário de moradores e visitantes.
O que é um Biodigestor?
O biodigestor é uma tecnologia socioambiental de baixo custo, capaz de transformar resíduos orgânicos, como fezes de animais e restos de alimentos, em biogás, que pode ser utilizado no fogão da cozinha e, em biofertilizante, usado como insumos em hortas.