Foto: Renato Moura / Voz das Comunidades
Colaboração: Jonas Di Andrade
Quando a questão é relacionada à integridade física e mental, os moradores nas comunidades cariocas convivem com a possibilidade de presenciar episódios traumáticos nestas regiões, como operações policiais e disparos de armas de fogo que colocam em risco a vida de quem mora nessas localidades.
Com objetivo de compreender as consequências da exposição frequente a estas situações, a organização People’s Palace Projects, em parceria com a Redes da Maré, realizou a pesquisa Construindo Pontes, direcionada na análise da saúde mental dos moradores do Complexo da Maré, Zona Norte do Rio de Janeiro.
Para isso, o estudo priorizou a população de 18 anos ou mais do Complexo da Maré, grupo estimado em 101.548 habitantes. O levantamento constatou, partir das respostas colhidas, que grande parcela dos moradores são negros entre 18 a 50 anos, com as mulheres sendo um pouco mais da metade de pessoas que moram na região.
Medo relacionado à violência
De acordo com a pesquisa, a violência restringe a circulação de pessoas e ideias, produz traumas, afeta a saúde e reduz a confiança nas instituições. Com isso, a pesquisa Construindo Pontes buscou compreender as consequências da violência sobre a população da Maré, com base em dados quantitativos e nos relatos dos moradores.
Metade da população (50,2%) sempre sente medo de ser alvejada por uma arma de fogo na Maré. Um número ainda maior (55,6%) sente medo constante de que alguém próximo seja atingido. No entanto, a maioria dos entrevistados – 67,3% – afirma não sentir medo de circular na Maré. Além disso, 20,5% tem medo de falar o que pensa ou sente.
Medo e insegurança
O medo da exposição à violência armada e da vitimização é verificada por mais da metade dos entrevistados adultos da maré. O estudo, que conversou com mais de 1,4 mil moradores do maior conjunto de favelas cariocas, revelou também que cerca de 63% da população local convive com o medo frequente de ser alvejado por disparos de armas de fogo.
Além desse indicador, a pesquisa demonstra que a ansiedade ou o tormento mental nesses casos aumenta para 70,9% quando o pensamento envolve pessoas próximas ao seu círculo pessoal. Dentro desses índices ainda, o estudo concluiu que um quinto da população adulta (31% dos entrevistados) possui a saúde mental e emocional afetada pelos episódios de violência do Complexo da Maré.
O resultado deste levantamento revela que os moradores da Maré passam por situações de extrema violência, como estar em meio a tiroteios ou testemunhar assassinatos, com impressionante frequência. Os dados também mostram que a maioria desta população vive permanentemente com medo. Um quinto dos entrevistados acredita que este estado emocional causa prejuízos à saúde física; quase um terço revela efeitos sobre sua saúde mental.
Para conhecer mais a respeito do estudo, acesse este link.