Se você deixou de lado a camisinha na hora H e está preocupado, provavelmente colocou essa pergunta no Google. Afinal, o que fazer depois de relações desprotegidas para evitar infecções sexualmente transmissíveis (ISTs)? Em entrevista para o Voz das Comunidades, o médico infectologista e gerente do programa de IST/AIDS da Prefeitura do Rio, Gustavo Magalhães, explicou quais medidas devem ser adotadas.
De acordo com o especialista, quando a pessoa tem relação sexual desprotegida, mesmo que consentida, e está preocupada com o risco de infecções, ela tem o direito de procurar atendimento médico. Pode ser em uma unidade de atenção primária, como as Clínicas da Família, que funcionam de segunda a sexta-feira, em horário comercial. Nos finais de semana, feriados ou à noite, é indicado procurar unidades de pronto atendimento de urgência, como a UPA.
“A pessoa chega e conversa: ‘me expus, estou no risco de me infectar pelo HIV’, e ela tem direito à PEP, Profilaxia Pós-exposição. Após exposição de risco, pode tomar a medicação. São dois comprimidos uma vez por dia, 28 dias”, diz Gustavo Magalhães.
O médico ressalta que essa conversa precisa ser livre de preconceitos e discriminação, pois quem procura o atendimento quer ser acolhido. Afirma também que o profissional de saúde não pode julgar ninguém e sim estimular um diálogo sobre como é a sua vida sexual. Gustavo destaca que o papo deve acontecer em ambiente adequado dentro da clínica, sem exposições. Nessa conversa também é orientado métodos de prevenção, como a camisinha, e esclarecimentos sobre ISTs.
A seguir os principais pontos da entrevista com as orientações do médico infectologista.
tologista sobre PEP: Quando começar a tomar?
De preferência duas horas após a exposição, mas a gente tem um prazo de até 72 horas para começar. Só que antes de começar o remédio conversamos sobre práticas seguras de uso de preservativos e estimulamos a vacina contra o HPV. A gente também precisa saber se a pessoa vive ou não com HIV, então são feitos testes rápidos no momento do atendimento antes de começar o remédio. Quando fura o dedo são quatro testes: HIV, sífilis, hepatite B e C. Se der positivo, temos que iniciar um tratamento. É preciso entender que se deu HIV positivo, é porque já estava com HIV antes dessa relação mais recente. Os testes dando negativo, a gente começa com a medicação da PEP, durante os 28 dias.
O que tem nos comprimidos?
São medicamentos que nós chamamos de antirretrovirais. São remédios que combatem o vírus do HIV. Nesses dois comprimidos na verdade tem três antirretrovirais. Em um comprimido tem dois antirretrovirais, então a gente chama de ‘dois em um’. O ‘dois em um’ é Tenofovir, Lamivudina e o outro é Dolutegravir.
Tem alguma contraindicação?
Não tem problema para gestantes e não tem problema para quem está amamentando. Mas tem contra indicação em casos de problema renal crônico. Porque nesse ‘dois em um’, o Tenofovir não pode pra quem tem doença renal avançada. Nesse caso, o profissional vai dar um tratamento alternativo. No lugar do Tenofovir pode-se fazer o Abacavir ou AZT, que é a Zidovudina. O Tenofovir a gente também não recomenda para quem tem osteoporose muito avançada. Agora, o Dolutegravir tem interações com alguns remédios. Então é super importante a pessoa quando for atendida falar os remédios que usa.
Durante o período de 28 dias de medicação, há restrições?
Durante o uso da PEP a gente recomenda o uso preservativo. Porque vamos acompanhar antes e depois do uso da PEP, os exames de HIV para saber se a pessoa teve infecção naquela exposição. Acontece de estar tomando PEP e ter outras relações, como você está com o medicamento, alguma proteção tem. Mas não há muitos estudos sobre. Então orientamos usar preservativo, para monitoramento.
Como funciona o acompanhamento após 28 dias? Tem que voltar na clínica?
Sim, porque a gente vai ter que repetir os testes para ver se teve diferença. Porque antes de começar a medicação deu negativo, então após a medicação vai repetir os testes para ver se teve alguma mudança. Provavelmente se você tomou o remédio direitinho não vai acontecer nada, mas a gente sempre pede que a pessoa retorne. Também seria interessante fazer mais um teste três meses após essa relação para ter certeza.
A PEP garante 100% de eficácia?
Não é 100% eficaz, mas é bem raro e muito difícil de acontecer. Aconteceu um ou outro caso no mundo e mesmo assim relatado muito raramente e não foi nem no Brasil, que a gente tenha documentado. Isso porque a pessoa entrou em contato com um vírus que já era resistente ao remédio. A probabilidade de proteção é mais de 99% se a pessoa tomar corretamente o medicamento.
E a PREP, o que é?
Existe a PREP, Profilaxia Pré-exposição. Quando a pessoa não vive com HIV mas sabe que tem uma atividade sexual intensa, muitos parceiros e se sente em risco, ela pode procurar a unidade de atenção primária para fazer o teste. Dando negativo, é indicado o medicamento. A PREP é um comprimido por dia antes de se expor.